Uma janela aberta para o mundo


No desafio complexo da comunicação, este blogue pretende ser um observatório do quotidiano de uma aldeia do Barrocal Algarvio, inserida no coração da Serra do Caldeirão, acompanhando os ritmos e ciclos da vida em permanente transformação.
Mas também uma janela aberta para a Aldeia Global mediatizada com os seu prodígios e perplexidades.
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terça-feira, 20 de outubro de 2015

CONTOS À LAREIRA.....contados pela artesã Filipa Faísca de Sousa



Na segunda sessão pública de MARKERS' MEAL a anciã Filipa, com o seu jeito singular de contar estórias, proporcionou um momento inesquecível para duas dezenas de participantes reunidos à volta de uma mesa, que assistiram embevecidos à magia das palavras ditas em forma de contos, todos eles relacionados com a alimentação.Partilho um dos contos, passado no tempo em que os animais falavam, esperando ter tomado os devidos apontamentos.
MOINHO DO TORNA NÃO VOLTA
Um agricultor tinha uma filha boazinha chamada Maria, enviuvou ainda novo e casou com uma segunda mulher da qual teve outra filha também chamada Maria, mas sem as qualidades humanas da irmã. A madrasta, tinha ciúmes da Maria boa e resolveu mandá-la ao moinho do Torna não Volta, montada no burrinho, para levar milho para moer. Maria diligente lá foi a caminho e encontrou um Cão que lhe perguntou:-onde vais Maria? Vou ao moinho do Torna não Volta para moer este milho. Posso ir contigo? Perguntou o Cão. Podes sim e pôs o Cão em cima da albarda e continuou caminho.... Mais à frente encontrou o Gato que lhe perguntou? Onde vais Maria? E ela respondeu ao que ia, o Gato quis ir também, alojou-o junto à rabiça da albarda e seguiram viagem os três. Mais adiante encontrou o Galo que lhe perguntou onde ia e se podia ir com eles. Ela respondeu que sim, alojou o galo na parte traseira do burro e seguiram viagem pela vereda que levava ao moinho.Aí chegados o moinho estava a trabalhar, movido pela força do vento, despejou o milho no tegão (uma espécie da caixa  onde se depositam os cereais) e passado algum tempo o milho moído encheu a saca. Como se fez tarde a noite caiu,  Maria decidiu pernoitar com os animais dentro do moinho, ficando o Cão junto à porta de entrada, o Gato alojou-se em cima da saca de linho e o Galo empoleirou-se no corrimão das escadas.Maria retirou a merenda do talego, fez umas papas de milho e partilhou a ceia com os três bichanos. E ali pernoitaram adormecendo com aquela melodia das mós e das velas a murmurar com o vento. Às tantas da noite ouviu-se um Animal Feroz com voz ameaçadora junto à porta. O Cão arrebitou as orelhas e ladrou ,..se me vou a ti... e a fera calou-se. Passado algum tempo a Fera voltou a uivar e a fazer estremecer a porta e foi a vez do Gato rosnar ..se salto daqui... e a Fera voltou a calar-se. Dali a pouco a Fera voltou a ameaçar e foi a vez do Galo cantar ai se pulo daqui... e não se voltaram a ouvir sinais do bicho mau. De manhãzinha, com o sol a brilhar no céu puseram-se a caminho e Maria foi deixando cada um dos animais nos seus sítios e chegou a casa são e salva, com o milho moído para grande espanto da madrasta. Passado algum tempo, a farinha estava a acabar e a madrasta resolveu mandar a filha ao moinho para trazer novo saco de xérem. A Maria má pôs-se ao caminho, encontrou o Cão que lhe perguntou onde ia e se podia ir com ela mas ela respondeu grosseira "havia que ver eu dizer-te onde vou..mas o cão seguiu a pé atrás dela. Mais adiante encontrou o Gato que lhe fez a mesma pergunta e ela deu a mesma resposta, mas o Gato decidiu ir também a pé. A seguir encontro o Galo, com as mesmas perguntas e a resposta foi a mesma. Foram todos ter ao moinho, a Maria pôs o milho a moer, recolheu a farinha mas já se tinha feito noite. Alojou-se no moinho, os três animais também entraram, retirou a merenda do saco , fez as papas de xérem mas não partilhou nada com os animais que não tiravam os olhos dela esperando sem sucesso alguma migalha e por ali ficaram a dormir. Às tantas da noite se ouviu a voz aterradora da Fera.Maria assustada pediu ajuda ao cão mas ele respondeu: "quem comeu as papas que te acuda". A Fera continuou a uivar e a forçar a porta, Maria pediu ajuda ao Gato mas ele respondeu "quem comeu as papas que te acuda". A Fera continuou a tentar arrombar a porta, Maria em pânico pediu ajuda ao Galo que lhe respondeu: "quem comeu as papas que te acuda". Sem ter resistência a Fera conseguiu entrar no moinho, abriu a porta e comeu a pobre da Maria que lhe chamou um figo. E do moinho do Torna Não Volta a Maria má nunca voltou, mas deixou-nos a pensar no moral da história....

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