Uma janela aberta para o mundo


No desafio complexo da comunicação, este blogue pretende ser um observatório do quotidiano de uma aldeia do Barrocal Algarvio, inserida no coração da Serra do Caldeirão, acompanhando os ritmos e ciclos da vida em permanente transformação.
Mas também uma janela aberta para a Aldeia Global mediatizada com os seu prodígios e perplexidades.
São bem vind@s tod@s os visitantes que convidamos a deixar o seu contributo, enriquecendo este espaço de encontro(s) e de partilha com testemunhos, críticas e sugestões.OBRIGADO PELA SUA VISITA! SE TIVER GOSTO E DISPONIBILIDADE DEIXE O SEU COMENTÁRIO.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

CANTARES DE ANO NOVO

A tradição das Janeiras é muito antiga no Algarve decorrendo entre o Natal e os Reis, com grupos de janeireiros (charolas ou joldas) tendo sido proibidas na idade Média pela Igreja e até com algumas posturas reais e municipais, devido ao seu carater profano. Até há poucas décadas ainda tinha muita expressão desde Vila Real de Santo António a Aljezur e pela noite os grupos iam de porta em porta, ecoando cânticos, acompanhados por vezes com instrumentos musicais, dedicados ao Menino Jesus, a desejar um Ano Bom, mas também com cantares dedicadas às almas dos entes falecidos.
Evocando essa tradição, transcrevemos aqui alguns excertos desses cantares, recorrendo à recolha feita pelo Padre José Cunha Duarte e publicada no livro Natal no Algarve.
A Charola das Matraqueiras da Fuzeta começava:
Já nasceu o Deus Menino,
Com prazer e alegria;
Já nasceu o Deus Menino,
Filho da Virgem Maria.


A Charola da Conceição de Tavira:
Numa cabana em Belém,
Nasceu Jesus Pequenino:
De Maria sua mãe,
Fruto de um amor divino.
Em Alte o grupo fundado pelo grande animador José Vieira cantava nos Reis:
Venho-lhe dar os Bons Reis
Já que os anos bons não pude;
e diga lá minha senhora,
Como passa de saúde.
A joldra de Aljezur iniciava a sua toada:
Boa noite, ó meus senhores,
Como estão, como passaram?
Dêem agora licença,
Janeireiros que aqui chegaram.
Em Odeceixe sem utilizar instrumentos musicais davam o mote:
Esta noite é de Janeiras, 
É de grande mer`cimento,
Por ser a noite primeira
Que o Senhor passou tormento.
O canto das almas era no entanto o mais impressionante e era muito frequente no concelho de Loulé, mas também em S. Brás de Alportel e Tavira.  O principiador cantava a solo dois versos e o grupo repetia. 
Acordai que estás dormindo,
Nesse sono tã profundo;
Vem ouvir os clamores
Das almas do outro mundo.

As almas do ôtro mundo,
Elas lhe mandam pedir;
Que lhes façam algum bem,
Que elas nâ podem cá vir.

E depois de cerca de duas dezenas de quadras ecoando no silêncio da noite,  esta impressionante evocação dor mortos terminava assim:
Fiquem-se com Deus, irmãos,
Que eu com Deus me vou embora;
Quando nos juntarmos todos,
Lá no Rêno da Glória.



quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

SALAME DE ALFARROBA, uma delícia

Salame com o chocolate do Algarve

Fácil de fazer e simplesmente delicioso, experimente...
Misture100 g de farinha de alfarroba, com 40g de açúcar, 100g de manteiga quente derretida e 4 gemas de ovo. Mexa bem e depois junte 150 g de bolachas partidas aos bocados. Deite tudo numa folha de alumínio fazendo a forma de rolo e leve ao frigorífico.Depois é servir às fatias e esperar pelos elogios ...
tem um sabor diferente do chocolate,muito agradável e feito com matéria prima algarvia.


O NATAL NO ALGARVE

Presépio tradicional algarvio - Museu Etnográfico do Trajo Algarvio
Presépio de cortiça - Museu Etnográfico do Trajo Algarvio
Esta época do ano, associada ao solstício de inverno, era ancestralmente dedicada ao culto dos entes queridos falecidos. Com  o cristianismo foi transformada no culto do nascimento de Cristo, que segundo  o historiador José Matoso não teria nascido no mês de dezembro e o seu nascimento teria ocorrido 8 anos antes da data adoptada pela Igreja Católica. 

Citando o padre José da Cunha  Duarte, autor do livro Natal no Algarve (Edições Colibri), p. 19," o Natal surgiu como a "festa da luz". Cristo é o novo "sol " que vem iluminar o mundo e o coração do homem. Não sabemos a data exata do seu nascimento."
Certo é que esta época do ano, que na Roma antiga coincidia com as festas Saturnais (em honra de Saturno), era um tempo de paz e recolhimento, suspendiam as guerras e até os tribunais, mas não parava a atividade culinária e a necessária degustação das quais os romanos eram grandes apreciadores.
No Algarve nos presépios tradicionais, como o que mosta a imagem, Jesus Cristo era a figura central, eram decorados com searas de trigo germinado um mês antes e frutos coloridos, onde predominavam as famosas laranjas algarvias e por vezes outros frutos, nomeadamente as romãs. Simbolicamente Cristo surgia associado às sementeiras de trigo (o pão nosso de cada dia) que se desejavam férteis e à fecundidade representada pelas romãs, que era também um fruto muito apreciado entre os romanos. Mandava a tradição que no dia de Ano Bom e no Dia de Reis se comesse romã para ter dinheiro todo o ano.
Bibliogafia utilizada: Festividades Ciclicas de Ernesto Veiga de Oliveira (Publicações D. Quixote), Poderes invísiveis de José Matoso (Círculo de Leitores).

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

NATAL poema de Miguel Torga



NATAL 

Leio o teu nome
Na página da Noite
Menino Deus …
E fico a meditar
No milagre dobrado
De Ser Deus e menino.
Em Deus não acredito.
Mas de ti como posso duvidar?
Todos os dias nascem
Meninos pobres em currais de gado.
Crianças que são ânsias alargadas
De horizontes pequenos.
Humanas alvoradas…
A divindade é o menos.



Miguel Torga





quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O NATAL HÁ 50 ANOS NA NAVE DO BARÃO

   Solpostinho, lusco-fusco
adrega-se uma constelação de luzincus
piscando intermitente no barro rubro
entre as pedras encimadas na parede do forno.
Na chaminé rendilhada espreitam farripas de fumo.
O cheiro das filhós, casando-se com o aroma da terra molhada
 invadem a rua anunciando o Natal.
A zirpada deixou pequenas alvadas na vereda pedregosa,
crianças arremedam barragens na lama fresca
vestindo capotes  improvisados com sacas de serapilheira.
Portas abertas dão devaia da charola,
lamparinas de azeite iluminam toscamente a mesa de altar improvisado
com searas verdejantes, santos de cartolina, laranjas e romãs.
A magia das sombras inquietas projeta-se nas paredes caiadas.
Na alvorada do novo dia a geada desenhou caramelos
nos alguidares que dormiram ao relento.
Os mochêcos correm lampeiros ao fumeiro crepitando,
nos varais as chouriças penduradas por cima da lareira
perto das caçoilas tisnadas assoma um par de botitas cardadas.
Meia dúzia de rebuçados,... alguma peça de roupa tricotada...
Uma bexiga de porco insuflada
Fazem a alegria da pequenada.


tradução vocabularpara quem não é algarvio: Solpostinho- Ao por do sol Lusco fusco – Ao escurecer 
Adregar- Ver, Luzincus – Pirilampos Zirpada – Aguaceiro forte e repentino Alvadas – Corrente de água Arremedam -Imitam Dardevaia – Dar notícia Charola – Presépio Caramelo- Película de gelo Mochécos – Crianças Lampeiros- Ligeiros Assomar- Espreitar Caçoila- Caçarola Bexiga de porco insuflada- equivalente a um balão




domingo, 15 de dezembro de 2013

A PRAIA DOS SALGADOS

A praia surge na continuação do areal da Praia Grande, para nascente da Lagoa dos Salgados, que se forma no troço terminal da Ribeira de Espiche.
Situada a oeste de Albufeira, a Praia dos Salgados é muito procurada devido às suas características invulgares e também por naturistas que ali encontram espaço para as suas práticas nudistas. O areal desenvolve-se junto a uma lagoa costeira frequentada por aves migratórias.O espaço próximo à praia permanece em estado natural. O areal é muito extenso e com troços muito tranquilos. Atravessando a zona da foz da Ribeira de Espiche, que comunica esporadicamente com o mar, é possível fazer o percurso de natureza da Praia Grande onde se dá a conhecer a flora e fauna dos campos dunares e da Lagoa dos Salgados
No verão passado foi notícia na comunicação social devido à praga de mosquitos que se desenvolveu na Lagoa dos Salgados e invadiu as redondezas, incomodou os turistas que em muitos casos acabaram por abandonar a região.
Para quem quiser visitar virtualmente sugerimos que experimentem os seguintes sítios.


PÔR DO SOL NA PRAIA DOS SALGADOS

Numa das tardes soalheiras de novembro fomos à descoberta da Praia dos Salgados, ficámos surpreendidos pelos inúmeros complexos hoteleiros despovoados nesta época do ano e deslumbrados com este recanto do Algarve, que ao oeste da Ribeira de Espiche, (que morre no areal próximo do mar), ainda está praticamente virgem e acolhe uma imensa variedade de aves migratórias. Tirámos algumas fotos ao pôr do Sol que partilhamos aqui no blogue.  Conhecemos lá o sr. Artur Limão, uma figura singular, grande defensor deste oásis que estava a alimentar os bandos de patolas imagina-se ...com flocos de milho. Se não conhece vale a pena visitar enquanto não vier mais um impulso de "desenvolvimento" e destruição deste valioso património natural.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A ASSOCIAÇÃO OS BARÕES PRECISA DE NOVA ALMA

Um grupo de Baronenses reuniu no passado domingo, dia 7 de dezembro  para tentar dar um novo impulso a esta associação da Nave do Barão, que se encontra numa longa letargia há vários anos.
Essa reunião contou com a presença de dezena e meia de participantes que refletiram sobre a situação da associação os Barões e todos foram unânimes no desejo de reanimar a vida associativa deste centro de encontro e convívio da Nave do Barão. Foi constituído um Grupo Dinamizador (Arménio,Bernardino, Carlos,João Graça, Joaquim António, Madalena, Manuel Rosa)  com o objetivo de fazer contactos para a constituição de uma lista para os Corpos Sociais, ficando marcada nova reunião para janeiro. 
Fica aqui o convite/desafio para que mais baronenses e baronesas se associem a esta iniciativa para que o ano de 2014 traga novas energias positivas a este projeto associativo.