Uma janela aberta para o mundo


No desafio complexo da comunicação, este blogue pretende ser um observatório do quotidiano de uma aldeia do Barrocal Algarvio, inserida no coração da Serra do Caldeirão, acompanhando os ritmos e ciclos da vida em permanente transformação.
Mas também uma janela aberta para a Aldeia Global mediatizada com os seu prodígios e perplexidades.
São bem vind@s tod@s os visitantes que convidamos a deixar o seu contributo, enriquecendo este espaço de encontro(s) e de partilha com testemunhos, críticas e sugestões.OBRIGADO PELA SUA VISITA! SE TIVER GOSTO E DISPONIBILIDADE DEIXE O SEU COMENTÁRIO.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

VALE A PENA VISITAR SALIR NA FESTA DA ESPIGA

A Festa da Espiga é celebrada em todo o país de acordo com o calendário litúrgico cristão, na Quinta Feira da Ascenção, evocando a subida de Jesus Cristo ao Céu, sendo dia feriado no concelho de Loulé.No Sul de Portugal é tradição as pessoas irem para o campo para apanhar a "espiga", formando um ramo composto por espigas de trigo (a abundância), um ramo de oliveira (a paz), decorado com papiolas, malmequeres ou pampilhos ou outras flores campestres(simbolizando a beleza e a festa). Chegados a casa penduram o ramo dentro geralmente na parede da cozinha ou da sala, sendo substituído por outro ramo no ano seguinte  Este ano o Dia da Espiga será no dia 29 de maio. Salir e as aldeias vizinhas comemoram este dia com uma festa lindíssima, de cariz etnográfico, desfilando em carros alegóricos, evocando a memória do passado e as atividades agrícolas da freguesia.
Esta festa realizou-se pela primeira vez em 23/05/1968 por iniciativa do então presidente da Junta de Freguesia, o Sr. José Viegas Gregório, que trouxe a Salir as mais altas individualidades de Loulé e do distrito de Faro para assistir ao cortejo.Nas várias edições, antes e depois do 25 de Abril, as diferentes localidades aproveitam a presença dos responsáveis políticos para fazer os seus pedidos de melhoramentos para suas localidades, muitas vezes esquecidas pelo poder político.
Nos últimos anos o programa foi bastante enriquecido, prolongando-se durante três dias, com momentos de convívio e animação.
Este ano, além do desfile etnográfico durante a tarde de quinta feira, dia 29 de maio, haverá também a Noite da Espiga com folclore e outras intervenções musicais. a Noite Popular na sexta feira e a Noite da Juventude no sábado, contam com  espetáculos musicais e animação de rua, não faltando as iniciativas para crianças jovem e idosos e a gastronomia típica da região, nas tasquinhas montadas na Rua José Viegas Gregório.
Durante três dias Salir sai da sua pacatez, ganha outra alma e recebe em festa milhares de visitantes portugueses e estrangeiros. A Festa da Espiga em Salir é um momento único de arte e tradição popular, vale a pena visitar.

domingo, 25 de maio de 2014

MOTARDS de SALIR à moda antiga

A Associação Cultural de Salir organizou pela 3.ª vez, no passado dia 17 de Maio, uma reunião  de aficionados das motorizadas antigas, juntando neste evento perto de duas centenas de participantes.
Visitaram várias localidades da Freguesia de Salir e estiveram na Associação "Os Barões", que os recebeu com simpatia.O Almoço convívio decorreu no Campo de Futebol de Salir  e foi muito animado.. Foi uma iniciativa muito interessante que deu para matar saudades e reencontrar velhos amigos. Parabéns aos organizadores. Para o ano há mais...
Este ajuntamento de motorizadas evoca a concentração de antigamente à porta dos bailes na região, animados por acordeonistas.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

O VINHO- uma dádiva dos deuses

Não se sabe ao certo onde de onde é originária a vinha nem como surgiu o vinho, considerado uma uma "dádiva dos deuses" e a "essência da própria vida", mas supõe-se que possa ter surgido na Ásia Central, na região compreendida pela Arménia e antiga Pérsia. Admite-se que o vinho tenha resultado da fermentação ocasional de uvas que faziam parte do regime alimentar dos povos primitivos e o primeiros registos que dão conta da utilização de vinho para rituais religiosos, foram encontrados no antigo Egipto, o que indicia a existência de vinhas e de produção vinícícola, naquela região,  provavelmente há cerca cinco mil anos.
Na Península Ibérica os pioneiros da vinha e do vinho terão sido os Tartessos, povo que habitava na região da actual Andaluzia, a desenvolver há cerca de 4000 anos a viticultura, para consumo próprio, mas sobretudo para fins comerciais na região do Mediterrâneo.
Foram mais tarde os Fenícios que viriam a apoderar-se da atividade comercial dos Tartessos, incluindo naturalmente o nétar dos deuses.
Sabe-se que nos Gregos, no Séc. VII a. C., instalaram-se na Península Ibérica e desenvolveram a arte de produzir vinho. Os Celtas que também por cá estiveram e tinha familiaridade com a atividade vinícula, terão trazido novas castas e introduziram a técnica da tanoaria, onde o vinho era guardado para ser consumido ao longo do ano.
Região dos Tartessos

Grego bebendo 
Moeda Fenícia
Atribui-se ainda aos Romanos a modernização da vinha, através do o aperfeiçoamento o cultivo da vinha recorrendo a novas variedades e aplicando a técnica da poda nas videiras então existentes.
Com as invasões Árabes as atividades agrícolas, onde se incluíam as vinhas, foram incentivadas, sendo o vinho o principal produto exportado. A atividade vinícula deverá ter sofrido algum recuo nos séculos XI e XII, com o domínio dos Almorávidas e Almoadas,que levavam mais a peito os preceitos do Corão, que proibia o consumo do vinho.
Com a fundação de Portugal e a conquista definitiva do Algarve, alargaram-se as áreas de produção vinícola e vinho era um dos principais produtos exportados, tendo particular destaque no período dos descobrimentos e da expansão portuguesa, seguindo o vinho nos convés das naus acomodadas em toneis, sendo muito apreciado o vinho "torna viagem" devido ao seu aperfeiçoamento ao longo das demoradas viagens marítimas.
Os romanos e o vinho

Reconquista cristã
Cavalaria Árabe
D. Dinis, o lavrador
No século XVIII, com o impulso de Marquês de Pombal, a vitivinicultura ganhou maior relevância, sobretudo com os investimentos na Região do Douro e a produção do famoso vinho do Porto.
O vinho teve ao longo da história de Portugal uma enorme importância nas exportações mas no final do Século XIX, a vinha sofreu um revés ao ser atacada pela praga da "filoxera", importada de França e só viria a recuperar no início do Século XX, com a introdução de castas mais resistentes e a aplicação de caldas preventivas.
O vinho é omnipresente na poesia popular que lhe dedica imensas preciosidades, inspirou escritores (Fialho de Almeida," O País da Uvas", Miguel Torga, "As vindimas", Alves Redol uma triologia "Horizonte serrado", "Os Homens e as Sombras" e "Vindima de Sangue" e diversos poetas, entre eles Luís de Camões do qual reproduzimos um poema.
Com as recentes descobertas da importância do vinho para a saúde humana, nomeadamente por conter resveratol (presente sobretudo na pele e grainhas das uvas vermelhas), poderoso antioxidante e antiinflamatório, que atua conjuntamente com os genes. retardando o processo de envelhecimento cerebral, muscular e cardíaco.
No vinho como quase tudo na vida, devemos evitar os excessos porque o alcoolismo tem efeitos negativos provocando algumas doenças  no estômago, fígado e instestino.
A ciência vem no entanto dar aos que dedicaram odes ao vinho, cantaram as suas qualidades e o classificaram como uma "dádiva divina". Até Jesus Cristo, inspirando-se certamente nos antigos cultos egípcios, o tornou obrigatório nas práticas religiosas cristãs. Maomé não teria a mesma opinião, talvez por observar os efeitos negativos que o consumo excessivo de vinho provocava entre os muçulmanos.
Nau Portuguesa

Marquês de Pombal



Cada vez que vejo vir
Barcos à meia ladeira,
Lembram-me as moças de Cuba
E o vinho da Vidigueira.

Quinze e quinze são trinta.
São trinta! Não há vinho como o da Quinta.

É falar no escusado
Meter a mulher a caminho.
Provaste já o novo vinho?

Era no seco tempo que nas eiras
Ceres o fruto deixa aos lavradores:
Entra em anstreia o sol, no mês de Agosto;
Bago das uvas tira o doce mosto.

Luís Vaz de Camões




terça-feira, 6 de maio de 2014

BREVE HISTÓRIA DO VINHO DA NAVE DO BARÃO

A fama do vinho da Nave do Barão já vem de longe e foi contemplado no Foral que o Rei D. Afonso III, concedeu a Loulé (1266?) , quinze anos depois da conquista definitiva do Algarve.
No referido foral o rei reservou para si "40 avençadas de vinha conforme foram demarcadas para meus reguengos, para aqueles que as receberam para mim".
Era por isso seguramente um dos vinhos que ia à mesa deste rei D. Afonso III e mais tarde do rei D. Dinis que o sucedeu.
De acordo com a historiadora Isilda Martins, in "O foral de Loulé", "nas vinhas o rei reservou, as melhores, nelas foram incluídas as da Nave do Barão e o seu segredo, ainda hoje mantido, do seu tão apreciado vinho"
Ao longo de séculos os baronenses tiveram o vinho como principal fonte de rendimento e a extensa várzea da Nave do Barão estaria completamente ocupada por vinhedos, que produziam o tão afamado vinho, que devido às técnicas de fabrico e à forte maturação das uvas no verão soalheiro e quente, atingia valores elevados de álcool, de tal forma que os forasteiros, depois de beberem dois copos do precioso nétar , ficavam completamente "almareados".
Mas no final do Séc. XIX as vinhas da Nave do Barão, como aconteceu de norte a sul de Portugal, foram atacadas pela Filoxera, (doença provocada pelo inseto Penphigus vitifoliae) propagada de França, eventualmente através de castas de lá importadas. Esta doença das vinhas que ataca a parte subterrânea da planta, deverá por sua vez ter chegado a França, oriunda da América.
Os produtores de vinho da Nave do Barão, que tinham no vinho a sua principal fonte de rendimentos, devem ter passado um mau bocado e eliminaram as vinhas quase todas, substituindo-as pelo pomar de sequeiro tradicional do Algarve, plantando amendoeiras, figueiras, alfarrobeiras e oliveiras.
A zona destinada a vinhas passou a ser na Lagoa da Nave, talvez porque devem ter verificado que nessa zona a temível doença não se fazia sentir com tanta intensidade, devido à sua proximidade do imenso espelho de água que ali se forma no inverno e se prolonga até ao mês de maio.
Apesar de ter reduzido imenso a área de vinha, houve quem desse continuidade à produção do famoso vinho da Nave do Barão, que hoje ainda é feito com recurso a técnicas antigas (o chamado vinho de bica aberta de cor rosada) mas também recorrendo à infusão temporária do mosto nos engaços, que fica com uma cor muito mais escura.
O Vinho da Nave do Barão, mantém as caraterísticas artesanais e a sua mística que vem de longe. Este cartão de visita vai ser a fonte de inspiração para o carro alegórico que vai desfilar na Festa da Espiga, que terá lugar em Salir no próximo dia 29 de Maio.


sábado, 3 de maio de 2014

MÃE SOBERANA-Festa Grande a 4 de maio

Amanhã cumpre-se mais uma vez esta tradição que teve início no Séc XVI e a Nossa Senhora da Piedade regressa de de novo à sua ermida,no cimo do monte, de onde tinha saído na Festa Pequena, que decorreu no dia 20 de abril.
A Santa segue num andor, que é transportado por oito homens valentes, vestidos de calças e opas brancas, que sobem o íngreme cerro, ao ritmo acelerado da música da Banda Filarmónica, acompanhados pela população. A escalada do caminho que dá acesso ao altar da Nossa Senhora da Piedade é um momento muito significativo da fé cristã em Loulé. Ao esforço gigantesco dos homens que transportam a Virgem, alia-se a força espiritual dos muitos fiéis que, em vivas à Nossa Senhora, em passo vivo e na cadência musicada dos homens da banda, vão “empurrando”, no calor da fé e calçada acima, o pesado andor da padroeira. 
Bem na frente do andor, ao meio podemos ver o jovem arquiteto Tiago Ferreira, que elaborou o projeto de arquitetura da Casa da Tita na Nave do Barão e está a  acompanhar as obras de reabilitação da casa dos falecidos donos, Sr. Joaquim Valente e Srª D. Maria da Conceição (Tita).