Uma janela aberta para o mundo


No desafio complexo da comunicação, este blogue pretende ser um observatório do quotidiano de uma aldeia do Barrocal Algarvio, inserida no coração da Serra do Caldeirão, acompanhando os ritmos e ciclos da vida em permanente transformação.
Mas também uma janela aberta para a Aldeia Global mediatizada com os seu prodígios e perplexidades.
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segunda-feira, 4 de abril de 2016

JOAQUIM VALENTE- em jeito de homenagem

Joaquim Valente
Nascido em 1918, filho do agricultor mais rico da Nave do Barão, um dos nove filhos (cinco raparigas e quatro rapazes), Joaquim Valente, foi incansável lutador pelo progresso da sua aldeia natal, tendo casado (contra a vontade dos pais) com o grande amor da sua vida. Maria da Conceição Guerreiro.
Pela sua inteligência e estatura moral desempenhou a função de Cabo Chefe, figura de confiança do regime anterior, muito querido na sua aldeia pelos seus gestos generosos e humanitários. A muitos seus conterrâneos valeu nas dificuldades em tempos difíceis, que a ele recorriam em situações de doença, assegurando transporte no seu automóvel ou prestando cuidados de enfermagem, solicitando empréstimos ou facilidades na obtenção de passaporte, para quem queria emigrar para França e Alemanha.
Sempre pronto para ajudar, com aquele olhar atento e boa disposição, foi conselheiro amigo, solidário nas aflições e padrinho de meia aldeia no batismo, na crisma e no casamento.
Quem o conheceu ainda recorda com saudade aquele jeito sereno, por vezes brincalhão, com o macho pela arreata a palmilhar caminhos e veredas, transportando sacas de alfarroba ou amêndoa, e, todos os domingos sem exceção, lá ia a conduzir o seu taunus até Salir, com paragem obrigatória no Café do Zé Tomé ou no Luís Parreira.
Foi um verdadeiro lutador pelo desenvolvimento da sua terra e para a melhoria das condições de vida das suas gentes. Trouxe à Nave do Barão muitos responsáveis pelo poder local ou regional,organizou festas e refeições coletivas para sensibilizar as autoridades do estado Novo para a necessidade de estrada condigna, de camioneta ou eletricidade, que com boas palavras iam prometendo o que só depois de Abril chegaria com a Liberdade e a Democracia.
Por ironia do destino viria a morrer ainda relativamente novo, não resistindo a um ataque cardíaco mesmo à porta do Centro de Saúde de Salir.
Tinha algum talento musical, chegou a animar bailes mandados e tinha também veia poética, como se pode ver no poema com que pediu namoro à sua jovem amada.
Para que perdure a memória de um homem bom, dedicado à sua terra e aos seus conterrâneos,publicamos este apontamento in memorium de Joaquim Valente.

 Para ti Maria
Com a esposa

Sofro enquanto a ti não veja
Ao pé de mim na Igreja
De volta de um lindo véu
Ao ver que te pertenço
ó meu Deus assim penso
Julgo até que estou no céu.

Com esse olhar tão puro
Eu vou lendo o meu futuro
Pois do passado me esqueci
Nunca eu vivi outrora
A vida que vivo agora
Os pais
Quando estou ao pé de ti.

Que Deus me deu concerteza
Tanto amor tanta pureza
Por meu destino ser teu.
Dei tanto que eu queria
Nem tanto eu merecia
Que feliz destino o meu.

Às vezes até suponho
Que vejo através de um sonho
O mundo que eu não vivi
Pois eu fico recompensado
Da pena deste passado
Desde a hora em que te vi.