Uma janela aberta para o mundo


No desafio complexo da comunicação, este blogue pretende ser um observatório do quotidiano de uma aldeia do Barrocal Algarvio, inserida no coração da Serra do Caldeirão, acompanhando os ritmos e ciclos da vida em permanente transformação.
Mas também uma janela aberta para a Aldeia Global mediatizada com os seu prodígios e perplexidades.
São bem vind@s tod@s os visitantes que convidamos a deixar o seu contributo, enriquecendo este espaço de encontro(s) e de partilha com testemunhos, críticas e sugestões.OBRIGADO PELA SUA VISITA! SE TIVER GOSTO E DISPONIBILIDADE DEIXE O SEU COMENTÁRIO.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

O poder do dinheiro e a corrupção, poema de João de Deus

O grande poeta de Messines, deixou-nos um legado poético e pedagógico inestimável, tesouro guardado na Casa- Museu, escreveu este poema que continua atual nos nossos dias.
Publicado em https://www.facebook.com/confrariados.poetasalgarvios?fref=ufi

O dinheiro é tão bonito,
Tão bonito, o maganão!
Tem tanta graça o maldito,
Tem tanto chiste o ladrão!
O falar, fala de um modo…
Todo ele, aquele todo…
E elas acham-no tão guapo!
Velhinha ou moça que veja,
Por mais esquiva que seja,
Tlim!
Papo.
E a cegueira da justiça
Como ele a tira num ai!
Sem lhe tocar com a pinça;
É só dizer-lhe: -Aí vai…
Operação melindrosa,
Que não é lá qualquer coisa;
Catarata, tome conta!
Pois não faz mais do que isto,
Diz-me um juiz que o tem visto
Tlim!
Pronta.
Nessas espécies de exames
Que a gente faz em rapaz, 
São milagres aos enxames 
O que aquele demo faz! 
Sem saber nem patavina
De gramática latina,
Quer-se um rapaz dali fora! 
Vai ele com tais falinhas, 
Tais gaifonas, tais coisinhas …
Tlim!
Ora…
Aquela fisionomia 
E lábia que o demo tem!
Mas numa secretaria
Aí é que é vê-lo bem! 
Quando ele de grande gala, 
Entra o ministro na sala, 
Aproveita a ocasião: 
“Conhece este amigo antigo?
- Oh meu tão antigo amigo!
(Tlim!)
Pois não!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

FESTA DE VERÃO NA NAVE DO BARÃO

A Associação “Os Barões” vai retomar  a organização da Festa de Verão nos dias 9 e 10 de agosto, com um programa variado que inclui no primeiro dia Jogos Tradicionais (Burro, Bicho e Matraquilhos), inauguração da Exposição do nosso vizinho Alex Morgan, Baile abrilhantado pelo artista Gonçalo Tardão e no segundo dia o Rally Paper seguido de jantar e Serão Cultural, com jovens artistas da nossa aldeia.

É com satisfação que convidamos todos os que desejarem participar neste momento significativo da vida da nossa aldeia para fazer da Festa um momento feliz de encontro e convívio.
Os interessados em participar no Rally Paper devem fazer a sua inscrição no local, a partir das 14 h e 30m, estando incluído no preço por pessoa a t-shirt, o prémio e o jantar com todos os participantes. Haverá também um .prémio surpresa a atribuir por sorteio durante a ágape e opípara refeição.

domingo, 20 de julho de 2014

SALIR DO TEMPO- A História e o espanto

Nas ruas e ruelas de Salir, entre ameias seculares corroídas pelo tempo e pedras que evocam memórias guardadas no Polo Museológico de Salir, deambularam em três noites mágicas milhares de visitantes, entre  tendas e feirantes derramados na encosta, onde não faltou a gastronomia e a animação evocativa de outros tempos e da diversidade cultural com que se teceu a vida dos homens e das mulheres de todos os tempos. As feiras medievais que se tornaram frequentes em localidades históricas são um bom exemplo onde o imaginário se reinventa e se veste de espanto para dar lugar ao deslumbramento, para prazer e fruição de pessoas de todas as idades.
Este desejo de revisitar o passado e ter experiências novas gratificantes tornou-se sustentável economicamente e é uma ocasião excelente para aquisição de bens que não estão disponíveis nas catedrais de consumo a que chamamos Centros Comerciais ou mais pomposamente Fóruns, para sair da rotina e vivenciar ambientes culturais alternativos. A oferta alia rusticidade  e diversidade permitindo aos visitantes novos paladares e odores por preços acessíveis. Ninguém ignora que as ofertas gastronómicas batizados com nomes evocativos do passado, são inverdades históricas porque realmente, na Idade Média o Povo comia pessimamente, não havia regas de higiene, as casas de banho eram inexistentes, na falta de garfos e colheres comia-se com as mãos, não havia guardanapos e as mãos e a boca eram limpos às mangas ou noutras peças de roupa. A diversidade dos géneros alimentares era muito pobre e muitos dos alimentos hoje utilizados na confeção destas "refeições medievais" foram trazidos pelos portugueses de África, da Ásia e da América na grande epopeia dos Descobrimentos. Importa contudo realçar o sucesso destes eventos que nos transportam para outras vivências e nos inebriam com um sentido de festa alternativo aos espetáculos massificados, animados por "estrelas" pagas a peso de ouro em sofisticados cenários martelando sons nos nossos ouvidos.Parabéns à Câmara Municipal de Loulé que impulsionou esta iniciativa, à Junta de Freguesia de Salir e às associações locais que deram o melhor do seu esforço para o sucesso do SALIR DO TEMPO 2014. Para o ano há mais? Esperemos que sim.


















domingo, 6 de julho de 2014

LEONARDO VIEGAS, músico e poeta de Salir

Quem se lembra dos bailes de antigamente, que começavam ao lusco fusco e acabavam às tantas da noite? Muitos bailes na região eram animados pela música que fluía do acordeão do Leonardo, sentado na sua cadeira e assessorado pela sua inseparável companheira. Durante a noite lá vinha a música das tabletes e os moços eram "convidados" a oferecer pelo menos um presente ao seu par, quando se aproximava alguém a mandado do dono do estabelecimento, com uma caixinha de chocolates. Alguns rapazes, nem sempre bem abonados, ficavam à coca para fugir a esta surpresa, mas as moças ficavam todas contentes e exibiam com orgulho um ou mais troféus conseguidos e quando o baile parava lá iam ter com as mães para dar a guardar o precioso tesouro.
Hoje sem a fescura de outrora mas com a maturidade dos anos vividos, o Leonardo dedicou-se mais à poesia e já editou, desde o início deste novo milénio três livros: A voz do poeta pede justiça (2000), A sorte que me foi madrasta (2003) e Fantasias do Poeta (2005). Num gesto de amizade e solidariedade, um grupo de amigos do músico e poeta participou em 2007 numa coletânea, reunindo setenta poetas e poetisas, sob o título "Os amigos de Leonardo".
Hoje publicamos um poema engraçado que ele dedicou ao galo da sua capoeira.

Leonardo Carmo Viegas
O MEU DESPERTADOR

Tenho um galo cantador,
Com a crista avermelhada.
É o meu despertador,
Às cinco da madrugada.

Acorda logo preparado,
P'ra me fazer uma canção.
Mas se eu lhe digo que não,
Fica triste e amuado.

Canta muito engalanado,
Parece um compositor.
Ele é um grande tenor,
Tem uma boa garganta,
Por vezes até encanta,
O meu galo cantador.

Está sempre bem preparado,
é de raça especializada.
tem uma hora marcada,
Para dar as galadelas.
Dorme no galinheiro com elas,
Tem a crista avermelhada.

Já mo quiseram comprar,
Mas eu não o quis vender.
Eu sei que a minha mulher,
Nunca me iria perdoar.

Ficava triste a chorar,
Porque lhe tem um grande amor.
Dá-lhe comida a rigor,
Até lhe satisfazer a vontade,
Gosta dele de verdade,
É o meu despertador.