Uma janela aberta para o mundo


No desafio complexo da comunicação, este blogue pretende ser um observatório do quotidiano de uma aldeia do Barrocal Algarvio, inserida no coração da Serra do Caldeirão, acompanhando os ritmos e ciclos da vida em permanente transformação.
Mas também uma janela aberta para a Aldeia Global mediatizada com os seu prodígios e perplexidades.
São bem vind@s tod@s os visitantes que convidamos a deixar o seu contributo, enriquecendo este espaço de encontro(s) e de partilha com testemunhos, críticas e sugestões.OBRIGADO PELA SUA VISITA! SE TIVER GOSTO E DISPONIBILIDADE DEIXE O SEU COMENTÁRIO.

sábado, 9 de novembro de 2013

A FONTE DA LAGOA DA NAVE DO BARÃO

Quem hoje conhece a Nave do Barão, esta aldeia do Barrocal abrigada entre dois montes, com gente simpática e hospitaleira, está longe de imaginar as canseiras dos residentes há algumas décadas atrás, antes de haver água canalizada  e de muitos agricultores terem perfurado a terra mãe, trazendo para a superfície a água do que é hoje considerado o maior aquífero subterrâneo do Algarve.
Se recuarmos cem anos, quando ainda não tinha sido construído o poço na Lagoa da Nave, veríamos os residentes a percorrer o atribulado Caminho da Fonte, a cavalo dos seus burritos e machos, aparelhados com albardas, escangalhas e cântaros, subindo a encosta íngreme do monte, para ir buscar água às fontes que brotavam junto à Ribeira de Salir. No regresso com os amimais carregados com os tradicionais cântaros de barro, faziam o percurso contrário a pé, acompanhando o passo dos muares, que por vezes tropeçavam nas pedras do caminho, quebrando as vasilhas e perdendo o precioso líquido.

Foi entretanto construído o Poço na Alagoa da Nave, a que agora chamam Fonte da Nave do Barão e o percurso em busca de água para consumo doméstico, passou a ser feito por caminhos mais direitos e menos atribulados, mas ainda assim a uma razoável distância da localidade. À chuva, ao frio ou nos calores inclementes do verão, lá iam homens e mulheres nos seus burros, transportando dois ou quatro cântaros em cada viagem.
Algumas famílias construíram cisternas para armazenar a água das chuvas, que se esgotava com a chegada do tempo quente e era preciso ir abastecer os cântaros para os consumos domésticos e os animais ao Poço da Alagoa.

A água era então um bem precioso gerido com muita moderação. Os banhos, quase sempre com regularidade semanal, eram dados em alguidares, sendo a mesma água por vezes utilizada por várias pessoas.
Hoje é difícil aceitar estas restrições mas recordo-me perfeitamente de que a água posta na bacia para lavar as mãos, chegava a servir para várias pessoas.
No final dos anos sessenta surgiram os primeiros furos, que transformaram a agricultura exclusivamente de sequeiro em hortas de regadio.
Antes desta descoberta, tinham os residentes da Nave do Barão as suas hortas próprias ou arrendadas, em terrenos irrigados pela Ribeira de Salir, por detrás do monte que abriga a Nave do Vento Norte.
Foi já depois do 25 de Abril, depois de tantos pedidos e promessas durante  ditadura do Estado Novo, que a povoação da Nave do Barão experimentou a água canalizada, com todos os benefícios que lhe estão associados.Quem nos visita no inverno e vê o imenso lençol de água acumulada na Lagoa da Nave não pode imaginar as privações que houve em tempos, no consumo da água, esse recurso maravilhoso que todos devemos preservar na Terra. Hoje em dia, com a generalização dos químicos para adubar a terra e combater as pragas, estamos a contaminar as águas subterrâneas onde a água é captada, comprometendo a qualidade da água e o nosso futuro coletivo. 




Sem comentários:

Enviar um comentário

A diversidade de pensamento é fundamental para o desenvolvimento humano. Deixe aqui o seu testemunho.