Uma janela aberta para o mundo


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segunda-feira, 14 de abril de 2014

As portas que Abril abriu - Ary dos Santos

Era uma vez um país 
onde entre o mar e a guerra
 
vivia o mais infeliz
 
dos povos à beira-terra.



Era uma vez um país
 
de tal maneira explorado
 
pelos consórcios fabris
 
pelo mando acumulado
 
pelas ideias nazis
 
pelo dinheiro estragado
 
pelo dobrar da cerviz
 
pelo trabalho amarrado
 
que até hoje já se diz
 
que nos tempos do passado
 
se chamava esse país
 
Portugal suicidado.

Um povo que era levado 
para Angola nos porões
 
um povo que era tratado
 
como a arma dos patrões
 
um povo que era obrigado
 
a matar por suas mãos
 
sem saber que um bom soldado
 
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém 
que dentro de um povo escravo
 
alguém que lhe queria bem
 
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança 
feita de força e vontade
 
era ainda uma criança
 
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa 
era a força da razão
 
do coração à cabeça
 
da cabeça ao coração.
 
Quem o fez era soldado
 
homem novo capitão
 
mas também tinha a seu lado
 
muitos homens na prisão.


Esses que tinham lutado 
a defender um irmão
 
esses que tinham passado
 
o horror da solidão
 
esses que tinham jurado
 
sobre uma côdea de pão
 
ver o povo libertado
 
do terror da opressão.





De tudo o que Abril abriu
 
ainda pouco se disse
 
e só nos faltava agora
 
que este Abril não se cumprisse.
 
Só nos faltava que os cães
 
viessem ferrar o dente
 
na carne dos capitães
 
que se arriscaram na frente



(Excertos do poema original)

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