Sendo uma província relativamente pequena, o Algarve é muito rico em diversidade geográfica e etnográfica e em dialetos, que se podem identificar ainda hoje em diferentes localidades costeiras ou do interior.À Beira Mar são evidentes as diferenças de sotaque no Sotavento(que vai de Vila Real de Santo António a Faro) dos Cuícas de Monte Gordo,o falar das gentes de Olhão e de Faro, ou no Barlavento (que vai de Faro a Sagres) as pronúncias de Portimão, Lagos ou Vila do Bispo.
Mas no Barrocal,a faixa extensa compreendida entre o Litoral e a Serra também tem as suas diferenças linguísticas no modo de dizer e entoação.Ouvindo com atenção um salirense ou baronense e um habitante de Alte, de Messines ou de Silves percebem-se facilmente as diferenças de entoação e até utilização de alguns vocábulos específicos.
Mas se formos para a Serra (zona com relevo e vegetação diferente, que se cruza com o Barrocal e faz fronteira com o Alentejo), notam-se as diferenças linguísticas entre Cachopo, Ameixial ou Monchique.
Há mesmo alguns termos utilizados numa determinada região que não são reconhecidos noutros lugares.
Os lacobrigenses utilizam por exemplo termos como
condelipas,que na maior parte do Algarve são conhecidas por conquilhas,ou
mochêques quando se referem aos moços.
Em Olhos de Água usam
adoxo para identificar as covas que ficam cheias de água nas rochas,na Serra
riol quer dizer berlinde, os pescadores da Fuzeta usam calças a que chamam
avaiós e para manifestar espanto usam
Àvai!,os de Olhão mesmo ali ao pé usam
Ah! Mãe! em sinal de admiração mas também de negação e Faro que não fica longe
Uai! é o seu jeito de exclamar.Em Olhão usam
mano para os amigos,
salapica para pessoas ruívas sardentas, , em Monchique
desmaiar, pode significar a entrada do Maio e
encambulhar querendo dizer enganar.
Podíamos enumerar muitas outras expressões utilizadas apenas localmente mas a verdade é que existe um imenso vocabulário específico da região algarvia, que se diferencia claramente de outras regiões do país e que figura na sua maioria no Dicionário do Falar Algarvio, da autoria de Eduardo Brazão Gonçalves, editado por Algarve em Foco Editora.
Deixamos aqui o registo de alguns dos termos muito frequentes em todo o Algarve, que estão a cair em desuso, mas fazem parte do nosso património cultural:Alcagoita (amendoim) Barimbar (lixar),Dar d'vaia(avisar,saudar),Encambrunhar (enganar), Luzincu (pirilampo), Garofes (coisa nenhuma, comida imaginária),Griséu (ervilha), Marafado (levado da breca),Magana (velhaca), Malino (irrequieto), Nha(minha..), Ondepôs ou Undepôs( há pouco tempo),Papel (cena vergonhosa), Pelgona (mulher ociosa),Punhão ou Porça, (grosseria adocicada),Tarruta (pancada na cabeça),Tração (morte súbita), Rabaceiro (capaz de comer tudo), Zangarreiro (dá com a língua nos dentes), Xerém(farinha de milho), Xoxa (orgão genital feminino.................................
Um exemplo do modo de falar dos pescadores de Olhão, extraído do livro Gente de Olhão, de António Algarve (P. 43), retrata bem um estilo linguístico típico:" E entom um dia tava è ccá assentade ó sol, do quental da cadêa, conde vê um pliça, com um gage que falou cómagente, da nossa fala e esse préguntô sê cria falar com o sôr Entoine.O gaje disse quéra do conselade.Iste é cá nam sê o quéra. Pegui em mim e fui com ele. ()Um dia tava ê cá dande de corpe da retrete, tôde descompôste cóme um homem tá conde tá fazendo o service,...".