Nascido em 1918, filho do agricultor mais
rico da Nave do Barão, um dos nove filhos (cinco raparigas e quatro rapazes),
Joaquim Valente, foi incansável lutador pelo progresso da sua aldeia natal,
tendo casado (contra a vontade dos pais) com o grande amor da sua vida: Maria
da Conceição Guerreiro.
Pela sua inteligência e estatura moral
desempenhou a função de Cabo Chefe, figura de confiança do regime anterior,
muito querido na sua aldeia pelos seus gestos generosos e humanitários. A
muitos seus conterrâneos valeu nas dificuldades em tempos difíceis, que a ele
recorriam em situações de doença, assegurando transporte no seu automóvel ou
prestando cuidados de enfermagem, solicitando empréstimos ou facilidades na
obtenção de passaporte, para quem queria emigrar para França e Alemanha.
Sempre pronto para ajudar, com aquele
olhar atento e boa disposição, foi conselheiro amigo, solidário nas aflições e
padrinho de meia aldeia no batismo, na crisma e no casamento.
Quem o conheceu ainda recorda com saudade
aquele jeito sereno, por vezes brincalhão, com o macho pela arreata a palmilhar
caminhos e veredas, transportando sacas de alfarroba ou amêndoa, e, todos os
domingos sem exceção, lá ia a conduzir o seu taunus até Salir, com paragem
obrigatória no Café do Zé Tomé ou no Luís Parreira.
Foi um verdadeiro lutador pelo
desenvolvimento da sua terra e para a melhoria das condições de vida das suas
gentes. Trouxe à Nave do Barão muitos responsáveis pelo poder local ou
regional,Organizou festas e refeições coletivas para sensibilizar as
autoridades do estado Novo para a necessidade de estrada, de camioneta ou
eletricidade, que com boas palavras iam prometendo o que só depois de Abril
chegariam com a Liberdade e a Democracia.
Por ironia do destino viria a morrer ainda
relativamente novo, não resistindo a um ataque cardíaco mesmo à porta do Centro
de Saúde de Salir.
Tinha algum talento musical, chegou a
animar bailes mandados e tinha também veia poética, como se pode ver no poema
com que pediu namoro à sua jovem amada.
Para que perdure a memória de um homem
bom, dedicado à sua terra e aos seus conterrâneos,publicamos este apontamento
in memorium de Joaquim Valente.
Para ti Maria
Sofro enquanto a ti não veja
Ao pé de mim na Igreja
De volta de um lindo véu
Ao ver que te pertenço
ó meu Deus assim penso
Julgo até que estou no céu.
Com esse olhar tão puro
Eu vou lendo o meu futuro
Pois do passado me esqueci
Nunca eu vivi outrora
A vida que vivo agora
Quando estou ao pé de ti.
Que Deus me deu com certeza
Tanto amor tanta pureza
Por meu destino ser teu.
Dei tanto que eu queria
Nem tanto eu merecia
Que feliz destino o meu.
Às vezes até suponho
Que vejo através de um sonho
O mundo que eu não vivi
Pois eu fico recompensado
Da pena deste passado
Desde a hora em que te vi.
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