Quem se lembra dos bailes de antigamente, que começavam ao lusco fusco e acabavam às tantas da noite? Muitos bailes na região eram animados pela música que fluía do acordeão do Leonardo, sentado na sua cadeira e assessorado pela sua inseparável companheira. Durante a noite lá vinha a música das tabletes e os moços eram "convidados" a oferecer pelo menos um presente ao seu par, quando se aproximava alguém a mandado do dono do estabelecimento, com uma caixinha de chocolates. Alguns rapazes, nem sempre bem abonados, ficavam à coca para fugir a esta surpresa, mas as moças ficavam todas contentes e exibiam com orgulho um ou mais troféus conseguidos e quando o baile parava lá iam ter com as mães para dar a guardar o precioso tesouro.
Hoje sem a fescura de outrora mas com a maturidade dos anos vividos, o Leonardo dedicou-se mais à poesia e já editou, desde o início deste novo milénio três livros: A voz do poeta pede justiça (2000), A sorte que me foi madrasta (2003) e Fantasias do Poeta (2005). Num gesto de amizade e solidariedade, um grupo de amigos do músico e poeta participou em 2007 numa coletânea, reunindo setenta poetas e poetisas, sob o título "Os amigos de Leonardo".
Hoje publicamos um poema engraçado que ele dedicou ao galo da sua capoeira.
Leonardo Carmo Viegas |
O MEU DESPERTADOR
Tenho um galo cantador,
Com a crista avermelhada.
É o meu despertador,
Às cinco da madrugada.
Acorda logo preparado,
P'ra me fazer uma canção.
Mas se eu lhe digo que não,
Fica triste e amuado.
Canta muito engalanado,
Parece um compositor.
Ele é um grande tenor,
Tem uma boa garganta,
Por vezes até encanta,
O meu galo cantador.
Está sempre bem preparado,
é de raça especializada.
tem uma hora marcada,
Para dar as galadelas.
Dorme no galinheiro com elas,
Tem a crista avermelhada.
Já mo quiseram comprar,
Mas eu não o quis vender.
Eu sei que a minha mulher,
Nunca me iria perdoar.
Ficava triste a chorar,
Porque lhe tem um grande amor.
Dá-lhe comida a rigor,
Até lhe satisfazer a vontade,
Gosta dele de verdade,
É o meu despertador.
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