Manhã cedinho ainda o sol prometia um novo dia radiante, a tia Teresa Cavaco acenou-me da janela com a ternura das 96 primaveras e despertou a minha curiosidade.O que está a fazer tia Teresa?
A lavar a minha roupinha como de costume, respondeu. Fui espreitar e lá estava a esfregar e a enxaguar peças de roupa interior. Trespassou-me uma estranha nostalgia, misto de alegria, surpresa e inquietação...
Ainda estava com soldispícios pensamentos quando reparei naquela criatura encostada à parede caiada e aproximei-me curioso. Entre beijos e cumprimentos afetuosos perguntei...o que faz aqui tão cedo Tia Lucilina? Estou à espera da minha Celinha que me vai levar à médica por causa da perna direita que me doi...deve ser gota... A alegria que ainda bailava dentro de mim esmoreceu e pressenti uma espécie de dor e mágoa solidária com esta mulher linda, lutadora, que nos seus 86 anos continua a ser a melhor doceira da minha aldeia. E uma forte saudade despontou no meu peito ... a Rosinha, minha mãe que partiu cedo demais, era uma das melhores amigas da Lucilina...
Nesta duplicidade de sentimentos, contemplei as amendoeiras em flor que povoam a várzea da Nave do Barão e renasceu a esperança ... vai ficar boa, vai ver Tia Lucilina...