domingo, 24 de dezembro de 2017

O NATAL HÁ 50 ANOS NA MINHA ALDEIA




Solpostinho, lusco-fusco, 
Adrega-se uma constelação de luzincus 
Que pisca intermitente, 
Aninhada no barro rubro 
Entre pedras encimadas na parede do forno. 
Pela chaminé rendilhada
 Saem farripas de fumo
 E o cheiro a fritos de natal invade a rua, 
Casando-se com o a aroma da terra molhada. 
A zirpada deixou pequenas alvadas, 

Na vereda pedregosa, 
Crianças arremedam barragens na lama fresca 
Vestindo capotes improvisados 
Com sacas de serapilheira. 
Portas abertas dão devaia da charola, 
Lamparinas de azeite iluminam foscamente 
Mesa de altar improvisado, 
Figuras do presépio, santos de cartolina 
Laranjas, romãs, searas verdejantes, 
Projetam magia nas paredes caiadas. 
Na alvorada do novo dia 
A geada desenhou caramelos 
Nos alguidares que dormiram ao relento. 
Os mochécos correm lampeiros ao fumeiro 
Ali perto das caçoilas tisnadas 
Assomam suas botitas cardadas 
Meia dúzia de rebuçados, … 
Alguma peça de roupa tricotada, 
Uma bexiga de porco insuflada 
Fazem a alegria da pequenada.
Tradução vocabular para os que não são algarvios:
Solpostinho- Ao por do sol Lusco fusco – Ao escurecer Adregar- Ver Luzincus – Pirilampos Zirpada – Aguaceiro forte e repentino Alvadas – Corrente de água Arremedam -Imitam Dardevaia – Dar notícia Charola – Presépio Caramelo- Película de gelo Mochécos – Crianças Lampeiros- Ligeiros Assomar- Espreitar Caçoila- Caçarola Bexiga de porco insuflada- equivalente a um balão JOAQUIM ANTÓNIO

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