Joaquim Valente |
Pela sua inteligência e estatura moral
desempenhou a função de Cabo Chefe, figura de confiança do regime anterior,
muito querido na sua aldeia pelos seus gestos generosos e humanitários. A
muitos seus conterrâneos valeu nas dificuldades em tempos difíceis, que a ele
recorriam em situações de doença, assegurando transporte no seu automóvel ou
prestando cuidados de enfermagem, solicitando empréstimos ou facilidades na
obtenção de passaporte, para quem queria emigrar para França e Alemanha.
Sempre pronto para ajudar, com aquele
olhar atento e boa disposição, foi conselheiro amigo, solidário nas aflições e
padrinho de meia aldeia no batismo, na crisma e no casamento.
Quem o conheceu ainda recorda com saudade
aquele jeito sereno, por vezes brincalhão, com o macho pela arreata a palmilhar
caminhos e veredas, transportando sacas de alfarroba ou amêndoa, e, todos os
domingos sem exceção, lá ia a conduzir o seu taunus até Salir, com paragem
obrigatória no Café do Zé Tomé ou no Luís Parreira.
Foi um verdadeiro lutador pelo
desenvolvimento da sua terra e para a melhoria das condições de vida das suas
gentes. Trouxe à Nave do Barão muitos responsáveis pelo poder local ou
regional,organizou festas e refeições coletivas para sensibilizar as
autoridades do estado Novo para a necessidade de estrada condigna, de camioneta ou
eletricidade, que com boas palavras iam prometendo o que só depois de Abril
chegaria com a Liberdade e a Democracia.
Por ironia do destino viria a morrer ainda
relativamente novo, não resistindo a um ataque cardíaco mesmo à porta do Centro
de Saúde de Salir.
Tinha algum talento musical, chegou a
animar bailes mandados e tinha também veia poética, como se pode ver no poema
com que pediu namoro à sua jovem amada.
Para que perdure a memória de um homem
bom, dedicado à sua terra e aos seus conterrâneos,publicamos este apontamento
in memorium de Joaquim Valente.
Para ti Maria
Sofro enquanto a ti não veja
Ao pé de mim na Igreja
De volta de um lindo véu
Ao ver que te pertenço
ó meu Deus assim penso
Julgo até que estou no céu.
Com esse olhar tão puro
Eu vou lendo o meu futuro
Pois do passado me esqueci
Nunca eu vivi outrora
A vida que vivo agora
Que Deus me deu concerteza
Tanto amor tanta pureza
Por meu destino ser teu.
Dei tanto que eu queria
Nem tanto eu merecia
Que feliz destino o meu.
Às vezes até suponho
Que vejo através de um sonho
O mundo que eu não vivi
Pois eu fico recompensado
Da pena deste passado
Desde a hora em que te vi.
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