Mas é com as ordens do Templo e dos Templários, que surgem associadas às técnicas de construção dos templos, castelos e catedrais, onde ganham relevância os pedreiros ( maçon e maçonerie, em francês ) da Idade Média, que tinham alguma liberdade (pedreiro-livre) de se deslocar no território e de se associar como corporação.E é no seio dessa sociedade secreta que surge o culto do Grande Arquiteto Universal (Deus) e emerge também uma dimensão humanista, pretendendo "construir o futuro da Humanidade, tornando-a mais justa e perfeita", adoptando como símbolos o círculo, o compasso, o esquadro e utilizando o avental como sinal de trabalho.
Com este caráter secreto, foram surgindo lojas agregando pessoas com afinidades religiosas (protestantes, católicos), ou agnósticos, alargando-se a outras profissões (alfaiates, sapateiros, ferreiros, ...) e mais tarde ao exército, marinha,professores, médicos,advogados, jornalistas,....
Sabe-se que em 1717 havia quatro lojas de pedreiros em Londres que decidiram juntar-se para criar a Grande Loja e elegeram o seu Grão-Mestre.Em 1723 foi escrita por um escocês a Magna Carta da Maçonaria, tendo este movimento atravessado o Canal da Mancha e entre 1720 e 1730 ganhou grande expressão em França. Até ao final do século XVIII a Maçonaria ter-se-à espalhado por toda a Europa e ganho uma dimensão planetária nos restantes continentes.
Em Portugal foi fundada em 1727 por comerciantes britânicos protestantes uma loja de "herejes mercantes", em 1733 foi criada a Casa Real dos Pedreiros-Lives, de predominância católica, A Maçonaria viria a conhecer períodos de repressão por parte da Inquisição, interrompida durante o governo de Marquês de Pombal (que se supõe tido contato com esta sociedade no período que esteve fora de Portugal), para a "pedreirada" voltar a ser perseguida nos reinados seguintes, nos períodos de domínio absolutista e de novo ter esplendor na revolução liberal, onde se empenhou ativamente.
À semelhança do que aconteceu noutros países, nos períodos de ditaduras, durante os fascismos ou comunismos, a Maçonaria foi eleita como inimigo a abater, tendo durante o período salazarista sido assaltado e destruído em 1929 o Palácio do Grémio Lusitano, curiosamente com ativo protagonismo de Marcelo Caetano. Durante o período do "Estado Novo" muitos dos seus membros foram perseguidos, presos, torturados e até mortos, tal como aconteceu com o Partido Comunista Português na clandestinidade. Com a Revolução de Abril, a instauração da democracia e da liberdade os "maçons" tiveram uma forte influência política nos diferentes orgãos do Estado e em partidos políticos como o PS e o PSD, assumindo funções de grande destaque nas respetivas lideranças.
Quando consultamos a lista de notáveis da maçonaria tornados públicos ou representados nas galeria maçónicas, sobretudo depois da sua morte, não deixamos de ficar impressionado pelo enorme peso político desta instituição secular na nossa vida coletiva.
Em Portugal, entre o lote dos notáveis tornados públicos constam nomes como Elias Garcia, António Augusto de Aguiar, Bernardino Machado, Mouzinho da Silveira, Machado dos Santos, Sidónio Pais,Afonso Costa, João Soares, Humberto Delgado, Norton de Matos, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental,Eça de Queirós, Bocage, Filinto Elísio, Avelar Brotero,Teixeira de Pascoais,Vitorino Nemésio, Rafael Bordalo Pinheiro e os autores do Hino Nacional Alfredo Keil e Henrique Mendonça. Na nossa história mais recente podemos encontrar na lista dos que têm mais visibilidade pública Mário Soares, Nuno Rodrigues dos Santos, Adelino da Palma Carlos, Luís Rebordão, Dias Amado, Teófilo Carvalho, Bissaya Barreto, Emídio Guerreiro, José Magalhães Godinho, Fernando Vale, Oliveira Marques, Maldonado GonelhaJosé Magalhães. José Lamego,, Rui Pereira, Alberto Martins,João Cravinho,Paulo Coelho, Fernando Condesso, Francisco Pimentel Almeida Santos, Adão e Silva, Leonor Coutinho, Maria Belo, António Arnaut, Vasco Lourenço, António Sousa Lara, António Reis, Carlos Zorrinho, Luís Montenegro, José Jorge Letria, Mário Zambujal, H. de Oliveira Marques, Carlos Alberto Moniz, José Nuno Martins,Jorge Coelho, Moita Flores, João Soares, Paulo Macedo, João Proença, Henrique Monteiro, Isaltino Morais e Miguel Relvas. Haverá muitos outros que não desejam tornar pública a sua pertença à Maçonaria por motivos pessoais ou por vontade da própria organização.
A Pluralidade de cultos
A história da Maçonaria em Portugal está longe de ser simples e linear, não só porque tem duas fontes de inspiração diferentes (Anglo-Saxónica e Francesa), experimentou momentos altos e baixos, muito influenciados por conjunturas políticas mais ou menos favoráveis e naturalmente também pelos diferentes estilos de liderança.
Registaram-se ao longo de quase três séculos de existência inúmeras cisões e reunificações.mantendo no entanto a Maçonaria uma atividade regular.
Mais recentemente, em 1985 surge nova cisão com a constituição formal, (sendo os estatutos publicados em Diário da República de 22 de Abril), a Grande Loja de Portugal, fundada por dissidentes, alguns deles irradiados do GOL por rebeldia, na sequência talvez da sua candidatura ter sido derrotada nas eleições de 1984, onde defenderam que a separação entre a Maçonaria e a política.
O grupo dissidente fundou a Grande Loja de Portugal que viria a dar origem à à Grande Loja Legal de Portugal em 1996. Mas as divergências internas acabaram vieram a dar lugar a uma nova agremiação em 2000, designada por Grande Loja Nacional Portuguesa e em 2009 a Grande Loja Unida de Portugal.
Relativamente à participação feminina na Maçonaria sabe-se que foi retomada a experiência mista com a reativação em 1980 da Ordem Maçónica Mista Internacional, (que esteve ativa em Portugal há quase um século), com lojas ativas em Lisboa, no Porto, em Évora, Alcobaça, Gaia e Braga.
No entanto o culto exclusivamente feminino levou à criação em 1983 da Loja Unidade e Mátria, que agregava três oficinas, uma em Lisboa (Lustânia) e outra no Porto (Invicta) e na Figueira da Foz (Claridade), reunindo no seu conjunto cerca de 80 praticantes que elegeram para Grão-Mestre Manuela Cruzeiro.
Recorrendo também à mesma fonte*, teria sido ainda criada em 2007 a Federação Portuguesa da Ordem Maçónica Mista Internacional Le Droit Humain- O Direito Humano.
Méritos
Pela difusão dos seus ideias generosos e a influência política, militar, social e cultural, a Maçonaria está associada a momentos significativos na História Universal e Nacional de que são exemplo a Revolução Francesa, a independência dos Estados Unidos da América, a independência do Brasil, a Revolução Liberal em Portugal e a Implantação da República Portuguesa.
A sua vocação humanitarista e progressista estendeu-se a diferentes domínios da nossa vida coletiva, tendo notória influência nas artes, nas letras, na ciência, na cultura, na educação, na política, na economia e teve contributo relevante, desde meados do século XIX. na criação de inúmeras associações mutualistas, cooperativas, de cultura e recreio, sindicatos e partidos políticos.
Deméritos
O seu caráter progressista é questionado pela segregação que fazem no direito ao acesso das mulheres, sendo claramente excluídas no culto de inspiração anglo-saxónica e consentidas nos culto de inspiração francesa, formando lojas especificamente femininas, como aconteceu com a criação da primeira loja feminina de adopção em 1881, por iniciativa de Ana Castro Osório e da viscondessa de Juromenha. Existem atualmente algumas lojas femininas em Portugal, enquadradas no GOL,(Grande Oriente Lusitano), sendo culto iniciático assegurado por tutores masculinos,
Houve ainda uma experiência de criação de uma loja mista nos anos 20 do Séc. XX, mas a experiência não deve ter resultado bem porque viria a fechar pouco tempo depois.
Têm merecido destaque na Comunicação Social casos de corrupção onde é notória a cumplicidade de algumas lojas maçónicas como aconteceu com o caso Paulo Portas e a empresa de sondagens da Universidade Moderna, com a licenciatura de Miguel Relvas na Universidade Lusófona, com a impunidade prolongada de Isaltimo Morais, com as pressões maçónicas para libertar José Sócrates, com as secretas do espião Jorge Silva Carvalho e mais recentemente com os vistos gold.
A ousadia e atividade de alguns maçons prolonga-se na Assembleia da República, onde há deputados a denunciar tentativas de aliciamento para a Maçonaria e ocorrem estranhas mudanças de opinião de deputados nas comissões de inquérito, depois de eventuais reuniões na loja maçónica de pertença,
Há também denuncias de indícios de favorecimento de determinados negócios ruinosos para o Estado, favorecendo empresas privadas, deixando no ar a suspeita da existência de lóbis maçónicos por detrás.
No sentido de combater estes sinais de corrupção e melhorar a imagem pública, decidiu o GOL criar um grupo de trabalho para estudar eventuais práticas contrárias à ética e filosofia maçónica.
Na vida das organizações sem excepção, apesar dos princípios altruístas e de nobres objetivos, as fragilidades e falibilidades convivem com os feitos prodigiosos, as dádivas e práticas generosas.
A Maçonaria enquanto organização de pessoas não será excepção, mas o seu secretismo e opacidade estão em contradição com a clareza e transparência que deve existir em democracia e no exercício de uma cidadania crítica, solidária e fraterna.
Bibliografia consultada
*Uma História da Maçonaria em Portugal(1727-1986), António Ventura, Círculo de Leitores
Conferência proferida por Carlos Jaca na Escola Secundária Alberto Sampaio em 15/11/2002