Uma janela aberta para o mundo


No desafio complexo da comunicação, este blogue pretende ser um observatório do quotidiano de uma aldeia do Barrocal Algarvio, inserida no coração da Serra do Caldeirão, acompanhando os ritmos e ciclos da vida em permanente transformação.
Mas também uma janela aberta para a Aldeia Global mediatizada com os seu prodígios e perplexidades.
São bem vind@s tod@s os visitantes que convidamos a deixar o seu contributo, enriquecendo este espaço de encontro(s) e de partilha com testemunhos, críticas e sugestões.OBRIGADO PELA SUA VISITA! SE TIVER GOSTO E DISPONIBILIDADE DEIXE O SEU COMENTÁRIO.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

MATANÇA DO PORCO - Tradição ou barbárie?

A matança do porco é uma tradição muito antiga, ligada a uma economia de subsistência, que aproveitava todas as partes do corpo para o consumo doméstico, ficando em conserva na salgadeira (não havia frigoríficos) e no fumeiro o varal com chouriças e paios, que iam sendo comidos a longo do ano. 
Para este dia eram convidados familiares e amigos que colaboravam nas diversas tarefas (os homens matam o porco e retalham as carnes, as mulheres fazem a comida e preparam o tempero e fazem os enchidos), sendo um momento festivo com almoço coletivo bem regado com vinho novo da colheita..
Esta tradição foi proibida durante muitos anos mas nem por isso deixou de ser praticada nas aldeias do barrocal e da serra algarvia.

Depois do almoço coletivo, com gastronomia típica, seguem-se as tarefas de tratamento das carnes, de conserva dos presuntos e do fabrico de chouriças e paios. Os presuntos depois de bem sovados com sal ficam a descansar na salgadeira e os enchidos colocados nos varais para serem fumados durante algumas semanas.
Trata-se de uma tradição que passou a ser legalizada mas é legítimo questionar sobre a violência a que o animal está sujeito nesta pratica tradicional e se não podem ser desenvolvidas técnicas que evitem ou atenuem o sofrimento do pobre suíno.
Trata-se de uma questão sensível e para recolher as opiniões dos nossos leitores, fizemos uma sondagem onde poderá participar escolhendo uma das quatro escolhas.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

O AMOR É... de Joaquim Pessoa



"O amor é o início. O amor é o meio. O amor é o fim. O amor faz-te... 
pensar, faz-te sofrer, faz-te agarrar o tempo, faz-te esquecer o tempo. O amor obriga-te a escolher, a separar, a rejeitar. O amor castiga-te. O amor compensa-te. O amor é um prémio e um castigo. O amor fere-te, o amor salva-te, o amor é um farol e um naufrágio. O amor é alegria. O amor é tristeza. É ciúme, orgasmo, êxtase. O nós, o outro, a ciência da vida. O amor é um pássaro. Uma armadilha. Uma fraqueza e uma força. O amor é uma inquietação, uma esperança, uma certeza, uma dúvida. O amor dá-te asas, o amor derruba-te, o amor assusta-te, o amor promete-te, o amor vinga-te, o amor faz-te feliz. O amor é um caos, o amor é uma ordem. O amor é um mágico. E um palhaço. E uma criança. O amor é um prisioneiro. E um guarda. Uma sentença. O amor é um guerrilheiro. O amor comanda-te. O amor ordena-te. O amor rouba-te. O amor mata-te. O amor lembra-te. O amor esquece-te. O amor respira-te. O amor sufoca-te. O amor é um sucesso. E um fracasso. Uma obsessão. Uma doença. O rasto de um cometa. Um buraco negro. Uma estrela. Um dia azul. Um dia de paz. O amor é um pobre. Um pedinte. O amor é um rico. Um hipócrita, um santo. Um herói e um débil. O amor é um nome. É um corpo. Uma luz. Uma cruz. Uma dor. Uma cor. É a pele de um sorriso." 

in "Ano Comum"


JOAQUIM PERSON * "love is the beginning. Love is the middle. Love is the end. Love makes you think, it makes you suffer, it makes you take the time, makes you forget the time. Love makes you choose, separating, rejecting. Love punishes you. Love makes up for you. Love is a reward and a punishment. Love hurts, love saves you, love is a lighthouse and a shipwreck. Love is joy. Love is sorrow. Is jealousy, orgasms, Bliss. The us, the other, the science of life. Love is a bird. A trap. A weakness and a strength. Love is a restlessness, a hope, a certainty, a doubt. Love gives you wings, love tips, love you, love you, love promises revenge, love makes you happy. Love is a chaos, love is an order. Love is a magician. And a clown. And a child. Love is a prisoner. And a guard. A sentence. Love is a guerrilla. Love compels you. Love commands you. Love steals. Love kills you. Remember love. Forget love. Love breathes. Love suffocates you. Love is a success. And a failure. An obsession. A disease. The trail of a comet. A black hole. A star. A blue day. A day of peace. Love is a poor. A beggar. Love is a rich. A hypocrite, a Saint. A hero and a weak. Love is a name. It's a body. A light. A cross. A pain. A color is the skin of a smile. " 

in "common year" (Translated by Bing)


FESTA DO CHOCOLATE EM LOULÉ

O Mercado de Loulé, lindíssimo edifício de inspiração árabe, foi durante três dias (13,14 e 15 de fevereiro) o local mais doce do Algarve, albergando diversos stands com as mais variadas iguarias em que o chocolate é o principal ingrediente.

Os visitantes, entre eles crianças de escolas e jardins de infância, deliciaram-se a ver e provar algumas deliciosas iguarias desde os bolos aos bombons, passando pelas cascatas, fondues, os licores ou pelas bebidas quentes, onde curiosamente também estiveram presentes produtores e os produtos regionais. O chocolate foi rei mas curiosamente começam a surgir também algumas alternativas deliciosas, tendo como base a alfarroba que se está a afirmar cada vez mais como o chocolate do Algarve, com a vantagem de ter um sabor agradável, ter menos menos teor de açúcar e por isso ainda mais saudável. 


A feliz ideia de fazer coincidir este evento com o Dia dos Namorados trouxe ainda mais ternura e magia ao evento.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

ALEX E AS MARAVILHAS DA NATUREZA ALGARVIA

Há uma interessante exposição para ver de Alexis Morgan, um jovem baronense que tem vindo a eternizar em fotografia o património natural do concelho de Loulé (fauna e flora). Uma pequena parte desse espólio deu origem a uma exposição itinerante, que pode ser visitada em Alte até ao dia 28 de fevereiro, entre as 9h e as 18 h, no Polo Museológico Cândido Guerreiro.
Alexis Mark Serra Guerreiro Morgan, nasceu em Londres em 1974, é Técnico de Ambiente na Câmara Municipal de Loulé, trabalha e faz as suas pesquisas nas Paisagens Protegidas da Rocha da Pena e Fonte Benémola.
A exposição tem fotografias fantásticas, intitula-se Pequenas e Grandes Maravilhas da Natureza e é especialmente dedicada à flora característica do Barrocal Algarvio e às lindíssimas borboletas naturais desse habitat.

Na versão inglesa, recorrendo ao texto divulgado na agenda municipal  de fevereiro:
"Small and Great Wonders of Nature" by Alexis Morgan, who is thouring though various locations.
This photographic exhibition portays some botanical specias and butterflies which can be found in the region.


domingo, 26 de janeiro de 2014

EVOCAÇÃO DE SILVES pelo poeta Árabe AL-MU'TAMID


saúda, por mim, Abú Bakr,
os queridos lugares de Silves
e diz-me se deles a saudade
é tão grande quanto a minha.
saúda o Palácio dos Balcões,
da parte de quem nunca o esqueceu,
morada de leões e de gazelas
salas e sombras onde eu
doce refúgio encontrava
entre ancas opulentas
e tão estreitas cinturas.
moças níveas e morenas
atravessavam-me a alma
como brancas espadas
como lanças escuras.
ai quantas noites fiquei
lá no remanso do rio,
preso nos jogos do amor
com a da pulseira curva,
igual aos meandros da água,
enquanto o tempo passava...
ela me serviu vinho:
o vinho do seu olhar,
às vezes o do seu copo,
e outras vezes o da boca.
tangia-me o alaúde
e eis que eu estremecia
como se estivesse ouvindo
tendões de colos cortados.
mas se retirava as vestes
grácil detalhe mostrando,
era ramo de salgueiro
que me abria o seu botão
para ostentar a flor.


Nascido em Beja em 1040, governou Silves e foi ocupar o trono do reino de Sevilha com 29 anos. 
Destronado após a queda de Sevilha o poeta é preso e nesse drama pessoal escreveu versos de grande intensidade lírica como este que retirámos do livro de Adalberto Alves, O meu Coração é Árabe.

sábado, 25 de janeiro de 2014

DANIEL VIEIRA UM ARTISTA SINGULAR

Natural de Alte onde nasceu em 1937, com seu modo simpático, afável, simples, tirou o curso de Belas Artes, foi professor em várias escolas,(conhecemo-lo na António da Costa em Almada e S. Bartolomeu de Messines), com uma sensibilidade imensa para as artes, a literatura, o teatro, a música (toca cavaquinho e integrou o grupo musical Erva Doce).Desde menino teve uma grande paixão pela pintura (que herdou do seu pai), revelando-se como artista plástico profundamente ligado a Alte e ao mundo rural que vive e expressa com o seu jeito e arte singulares. Hoje passa mais tempo em Lisboa, onde vive e frequenta mestrado na Escola superior de Belas Artes, mas sempre esteve profundamente ligado a Alte e às suas dinâmicas performativas, contribuindo para afirmar a sua terra natal como uma verdadeira Aldeia Cultural. Um grande abraço fraternal e as maiores felicidades para este artista local, que não tem tido suficiente visibilidade pública.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

BANHOS ISLÂMICOS EM LOULÉ

Foi descoberto em Loulé, junto ao centro histórico (Largo D. PedroI), um interessante complexo balnear islâmico. Se recuarmos ao período muçulmano no Algarve, época da formação de Loulé e da construção do seu primitivo castelo, podemos imaginar os habitantes que aqui moravam a deslocar-se para este local para tomar os seu banhos quentes, tépidos ou frios. Trata-se segundo a professora Susana Martinez, que tem trabalhado no campo arqueológico de Mértola com o arqueólogo Cláudio Torres, "os únicos banhos islâmicos em Portugal", o que torna ainda mais interessante este achado arqueológico. Já era conhecida a existência deste património escondido, que ganhou maior dimensão devido às descobertas feitas quando da abertura de uma vala para escoamento de águas pluviais.














Este tesouro pode vir a ser mais um interessante motivo

de atração turística mas por agora vai ser de novo enterrado, esperando que em breve venha a constituir um novo pólo museológico de Loulé.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A CHAMINÉ ALGARVIA

Quer uma chaminé de quantos dias?
Perguntava o mestre ao proprietário que o contratava para a construção da chaminé. 
A chaminé além da função utilitária ganhou valor ornamental e tornou-se um elemento identitário do Algarve. Mas as chaminés não são igualmente valorizadas em todas as zonas do Algarve conforme refere Leite de Vasconcelos, no VI volume da Etnografia Portuguesa: "a poente de Portimão, não abundam; sai muitas vezes o fumo por três fendas no telhado, formadas pela elevação de três cobertores, que recebem para isso um pouco mais de argamassa. Em Sagres há-as. Nem todas são belas; de Lagos para levante, de modo geral, no Sotavento, são frequentes as artísticas.... o algarvio edifica sobre o telhado, às vezes, obras de arte verdadeira"
Uma chaminé trabalhada com autêntico rendilhado de cal e tijolo é uma obra de arte genuína, motivo de orgulho dos seus proprietários e um cartão de visita da região algarvia.
O surgimento nas últimas décadas de chaminés feitas em série por molde, veio desvalorizar este verdadeiro património e hoje é muito difícil encontrar um pedreiro com arte e paciência para construir chaminés verdadeiramente artísticas. Na Nave do Barão temos no entanto um grande mestre capaz de construir qualquer modelo de chaminé tendo como base de trabalho um esquema ou imagem do modelo pretendido. Estamos a falar do José Ventura,
que com muito engenho e muita paciência vai ajudando a perpetuar a tradição.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

SALIR PROMOVE MERCADINHO DA HORTA

Uma feliz ideia esta de fazer o Mercadinho em Salir, no primeiro domingo de cada mês, para que os hortelãos e outros produtores da freguesia possam mostrar e vender os seus artigos. Ali podemos encontrar produtos hortícolas fresquinhos mas também outros bens produzidos de forma artesanal.
Esperemos que este novo espaço de venda, de encontros e de valorização dos produtos da terra, seja cada vez mais visitado e seja bem sucedido. Para o tornar mais atrativo sugerimos que a Junta de freguesia de Salir promotora do evento lhe dê mais dignidade, investindo na construção de toldos de proteção contra o sol e a chuva, utilizando um design que saiba conjugar tradição e modernidade.
O próximo Mercadinho será no dia 2 de Fevereiro. 
Frutos do Pomar
D. Cremilde e o artesanato tradicional
Flores diversas
Mel da região e ... sabonetes de leite e burra


Delícias de figo
Os tradicionais frutos secos





Não faltaram as filhós
Um grupo se jovens visitantes

MONTARIA AO JAVALI

Foi no sábado passado que se juntaram três dezenas de caçadores para fazer uma batida aos javalis que têm causado alguns prejuízos sobretudo nas hortas, aproximando-se demasiado perto da povoação.
Nesta batida foram abatidos dois javalis e como é habitual deu lugar a um almoço coletivo bem regado com o famoso vinho da Nave do Barão. Publicamos as fotos dos dois caçadores com pontaria afinada e imagem do almoço confecionado, como é habitual, pela Marieta.






quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

POEMA DE JOAQUIM PESSOA


Dia 365.


Termina o ano comum.
Termina o ano como 
um outro qualquer. Amei 
cada um dos dias que gastei. 
E gostei de os gastar. De os 
gostar. E degustei as horas, 
as semanas, os meses. Fui
sábio umas vezes, outras,
impaciente. Pedi-te:
dá-me a tua canção,
canta-a com os teus olhos,
os olhos do coração
irmãos da terra, irmãos 
da sombra, da cal, 
do sisal e do azul. Mal
me bastam as mil razões
do mel para sorrir e
para bater à porta de
cada página, procurando
no reverso, os versos da
ternura. Afago a pele
dos dias, a carne aflita
da distância. Quem é
que quer dar outro nome
às coisas que sempre
se chamaram assim,
e que assim se cantam
porque, agora, os dias
serão prova exaustiva
de coragem?

*
in ANO COMUM, 2.ª Ed.
Editora Edições Esgotadas,
2013.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

CANTARES DE ANO NOVO

A tradição das Janeiras é muito antiga no Algarve decorrendo entre o Natal e os Reis, com grupos de janeireiros (charolas ou joldas) tendo sido proibidas na idade Média pela Igreja e até com algumas posturas reais e municipais, devido ao seu carater profano. Até há poucas décadas ainda tinha muita expressão desde Vila Real de Santo António a Aljezur e pela noite os grupos iam de porta em porta, ecoando cânticos, acompanhados por vezes com instrumentos musicais, dedicados ao Menino Jesus, a desejar um Ano Bom, mas também com cantares dedicadas às almas dos entes falecidos.
Evocando essa tradição, transcrevemos aqui alguns excertos desses cantares, recorrendo à recolha feita pelo Padre José Cunha Duarte e publicada no livro Natal no Algarve.
A Charola das Matraqueiras da Fuzeta começava:
Já nasceu o Deus Menino,
Com prazer e alegria;
Já nasceu o Deus Menino,
Filho da Virgem Maria.


A Charola da Conceição de Tavira:
Numa cabana em Belém,
Nasceu Jesus Pequenino:
De Maria sua mãe,
Fruto de um amor divino.
Em Alte o grupo fundado pelo grande animador José Vieira cantava nos Reis:
Venho-lhe dar os Bons Reis
Já que os anos bons não pude;
e diga lá minha senhora,
Como passa de saúde.
A joldra de Aljezur iniciava a sua toada:
Boa noite, ó meus senhores,
Como estão, como passaram?
Dêem agora licença,
Janeireiros que aqui chegaram.
Em Odeceixe sem utilizar instrumentos musicais davam o mote:
Esta noite é de Janeiras, 
É de grande mer`cimento,
Por ser a noite primeira
Que o Senhor passou tormento.
O canto das almas era no entanto o mais impressionante e era muito frequente no concelho de Loulé, mas também em S. Brás de Alportel e Tavira.  O principiador cantava a solo dois versos e o grupo repetia. 
Acordai que estás dormindo,
Nesse sono tã profundo;
Vem ouvir os clamores
Das almas do outro mundo.

As almas do ôtro mundo,
Elas lhe mandam pedir;
Que lhes façam algum bem,
Que elas nâ podem cá vir.

E depois de cerca de duas dezenas de quadras ecoando no silêncio da noite,  esta impressionante evocação dor mortos terminava assim:
Fiquem-se com Deus, irmãos,
Que eu com Deus me vou embora;
Quando nos juntarmos todos,
Lá no Rêno da Glória.



quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

SALAME DE ALFARROBA, uma delícia

Salame com o chocolate do Algarve

Fácil de fazer e simplesmente delicioso, experimente...
Misture100 g de farinha de alfarroba, com 40g de açúcar, 100g de manteiga quente derretida e 4 gemas de ovo. Mexa bem e depois junte 150 g de bolachas partidas aos bocados. Deite tudo numa folha de alumínio fazendo a forma de rolo e leve ao frigorífico.Depois é servir às fatias e esperar pelos elogios ...
tem um sabor diferente do chocolate,muito agradável e feito com matéria prima algarvia.


O NATAL NO ALGARVE

Presépio tradicional algarvio - Museu Etnográfico do Trajo Algarvio
Presépio de cortiça - Museu Etnográfico do Trajo Algarvio
Esta época do ano, associada ao solstício de inverno, era ancestralmente dedicada ao culto dos entes queridos falecidos. Com  o cristianismo foi transformada no culto do nascimento de Cristo, que segundo  o historiador José Matoso não teria nascido no mês de dezembro e o seu nascimento teria ocorrido 8 anos antes da data adoptada pela Igreja Católica. 

Citando o padre José da Cunha  Duarte, autor do livro Natal no Algarve (Edições Colibri), p. 19," o Natal surgiu como a "festa da luz". Cristo é o novo "sol " que vem iluminar o mundo e o coração do homem. Não sabemos a data exata do seu nascimento."
Certo é que esta época do ano, que na Roma antiga coincidia com as festas Saturnais (em honra de Saturno), era um tempo de paz e recolhimento, suspendiam as guerras e até os tribunais, mas não parava a atividade culinária e a necessária degustação das quais os romanos eram grandes apreciadores.
No Algarve nos presépios tradicionais, como o que mosta a imagem, Jesus Cristo era a figura central, eram decorados com searas de trigo germinado um mês antes e frutos coloridos, onde predominavam as famosas laranjas algarvias e por vezes outros frutos, nomeadamente as romãs. Simbolicamente Cristo surgia associado às sementeiras de trigo (o pão nosso de cada dia) que se desejavam férteis e à fecundidade representada pelas romãs, que era também um fruto muito apreciado entre os romanos. Mandava a tradição que no dia de Ano Bom e no Dia de Reis se comesse romã para ter dinheiro todo o ano.
Bibliogafia utilizada: Festividades Ciclicas de Ernesto Veiga de Oliveira (Publicações D. Quixote), Poderes invísiveis de José Matoso (Círculo de Leitores).

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

NATAL poema de Miguel Torga



NATAL 

Leio o teu nome
Na página da Noite
Menino Deus …
E fico a meditar
No milagre dobrado
De Ser Deus e menino.
Em Deus não acredito.
Mas de ti como posso duvidar?
Todos os dias nascem
Meninos pobres em currais de gado.
Crianças que são ânsias alargadas
De horizontes pequenos.
Humanas alvoradas…
A divindade é o menos.



Miguel Torga





quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O NATAL HÁ 50 ANOS NA NAVE DO BARÃO

   Solpostinho, lusco-fusco
adrega-se uma constelação de luzincus
piscando intermitente no barro rubro
entre as pedras encimadas na parede do forno.
Na chaminé rendilhada espreitam farripas de fumo.
O cheiro das filhós, casando-se com o aroma da terra molhada
 invadem a rua anunciando o Natal.
A zirpada deixou pequenas alvadas na vereda pedregosa,
crianças arremedam barragens na lama fresca
vestindo capotes  improvisados com sacas de serapilheira.
Portas abertas dão devaia da charola,
lamparinas de azeite iluminam toscamente a mesa de altar improvisado
com searas verdejantes, santos de cartolina, laranjas e romãs.
A magia das sombras inquietas projeta-se nas paredes caiadas.
Na alvorada do novo dia a geada desenhou caramelos
nos alguidares que dormiram ao relento.
Os mochêcos correm lampeiros ao fumeiro crepitando,
nos varais as chouriças penduradas por cima da lareira
perto das caçoilas tisnadas assoma um par de botitas cardadas.
Meia dúzia de rebuçados,... alguma peça de roupa tricotada...
Uma bexiga de porco insuflada
Fazem a alegria da pequenada.


tradução vocabularpara quem não é algarvio: Solpostinho- Ao por do sol Lusco fusco – Ao escurecer 
Adregar- Ver, Luzincus – Pirilampos Zirpada – Aguaceiro forte e repentino Alvadas – Corrente de água Arremedam -Imitam Dardevaia – Dar notícia Charola – Presépio Caramelo- Película de gelo Mochécos – Crianças Lampeiros- Ligeiros Assomar- Espreitar Caçoila- Caçarola Bexiga de porco insuflada- equivalente a um balão




domingo, 15 de dezembro de 2013

A PRAIA DOS SALGADOS

A praia surge na continuação do areal da Praia Grande, para nascente da Lagoa dos Salgados, que se forma no troço terminal da Ribeira de Espiche.
Situada a oeste de Albufeira, a Praia dos Salgados é muito procurada devido às suas características invulgares e também por naturistas que ali encontram espaço para as suas práticas nudistas. O areal desenvolve-se junto a uma lagoa costeira frequentada por aves migratórias.O espaço próximo à praia permanece em estado natural. O areal é muito extenso e com troços muito tranquilos. Atravessando a zona da foz da Ribeira de Espiche, que comunica esporadicamente com o mar, é possível fazer o percurso de natureza da Praia Grande onde se dá a conhecer a flora e fauna dos campos dunares e da Lagoa dos Salgados
No verão passado foi notícia na comunicação social devido à praga de mosquitos que se desenvolveu na Lagoa dos Salgados e invadiu as redondezas, incomodou os turistas que em muitos casos acabaram por abandonar a região.
Para quem quiser visitar virtualmente sugerimos que experimentem os seguintes sítios.


PÔR DO SOL NA PRAIA DOS SALGADOS

Numa das tardes soalheiras de novembro fomos à descoberta da Praia dos Salgados, ficámos surpreendidos pelos inúmeros complexos hoteleiros despovoados nesta época do ano e deslumbrados com este recanto do Algarve, que ao oeste da Ribeira de Espiche, (que morre no areal próximo do mar), ainda está praticamente virgem e acolhe uma imensa variedade de aves migratórias. Tirámos algumas fotos ao pôr do Sol que partilhamos aqui no blogue.  Conhecemos lá o sr. Artur Limão, uma figura singular, grande defensor deste oásis que estava a alimentar os bandos de patolas imagina-se ...com flocos de milho. Se não conhece vale a pena visitar enquanto não vier mais um impulso de "desenvolvimento" e destruição deste valioso património natural.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A ASSOCIAÇÃO OS BARÕES PRECISA DE NOVA ALMA

Um grupo de Baronenses reuniu no passado domingo, dia 7 de dezembro  para tentar dar um novo impulso a esta associação da Nave do Barão, que se encontra numa longa letargia há vários anos.
Essa reunião contou com a presença de dezena e meia de participantes que refletiram sobre a situação da associação os Barões e todos foram unânimes no desejo de reanimar a vida associativa deste centro de encontro e convívio da Nave do Barão. Foi constituído um Grupo Dinamizador (Arménio,Bernardino, Carlos,João Graça, Joaquim António, Madalena, Manuel Rosa)  com o objetivo de fazer contactos para a constituição de uma lista para os Corpos Sociais, ficando marcada nova reunião para janeiro. 
Fica aqui o convite/desafio para que mais baronenses e baronesas se associem a esta iniciativa para que o ano de 2014 traga novas energias positivas a este projeto associativo.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

QUE TAL UMAS PAPAS DE XERÉM?

As papas fazem parte da tradição gastronómica algarvia e eram antigamente frequentes na mesa dos camponeses, utilizando naturalmente a farinha de milho moído em pequenas mós, movidas com a força do braço dentro de uma alcofa larga chamada caparão.
Além da farinha de milho moída juntavam-se outros ingredientes disponíveis, carne de porco da salgadeira, chouriças, e quando havia berbigão o conquilhas.
Eram confecionadas em tachos de barro, colocados em cima de uma trempe à lareira que estava  sempre acesa no outono e inverno.
São fáceis de preparar, sendo necessário no entanto o cuidado de ir pondo a farinha aos poucos na água a ferver para não grumar e fazer godilhões. Durante a cozedura é necessário estar por perto e ir mexendo de vez em quando evitando colar ao fundo. Quando fazem um género de "barriga de velha" é sinal de que estarão prontas para ir à mesa.  Para dar mais gosto às papas é feito previamaene em azeite uma fritura de bocadinhos de toucinho ou de chouriço, onde se junta a água com uma pitadinha de sal.
Para os mais pequenos eram muitas vezes acrescentado açúcar, tornado o prato mais apetitoso para o gaiatos.
O berbigão ou as conquilhas, eram colocados com casca e uma vez no prato eram "pescados" com os dedos ou a colher, dando mais paladar e enriquecendo este prato tradicional.
Há hoje na cozinha algarvia uma grande variedade de receitas das papas de Xerém incluindo carnes, marisco, a que se junta a água da cozedura,mas também presunto e até um copo de vinho branco, tornando este prato ainda mais apetecido pelos turistas.
É um bom prato para aquecer os dias frios que se avizinham...Experimente... é comer  e chorar por mais...
A farinha de milho está hoje disponível em todos os supermercados e sugere-se a aquisição de um lote mais moído e outro menos moído, porque essa mistura é a ideal para a confeção das papas de Xerém.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

OUTONO poema de Manuel da Fonseca

Outono chega
esvaído
sonolento.
Voam folhas lentas
nas mãos do vento.
Outono chega.
Desabrocha a flor esvanecida
na carne dos doentes
quebrantos
nos corpos da mulheres,
tristezas nos adolescentes
e os velhos morrer
resignados
quando o Outono chega
cheio de legenda
como ao sol-posto 
um dobre de finados.
In Poemas Completos

domingo, 10 de novembro de 2013

A AGRICULTURA BIOLÓGICA

O que é a Agricultura Biológica?
Trata-se de um modo de produção agrícola que não recorre à aplicação de pesticidas nem adubos químicos de síntese, nem ao uso de organismos geneticamente modificados, também conhecida no Brasil e Inglaterra por "agricultura orgânica", por "agricultura ecológica" em Espanha ou "agricultura natural" no Japão.
Quais as vantagens da Agricultura Biológica?
Respeita o ambiente, promove a biodiversidade não destruindo os habitats, evita a poluição dos solos por não utilizar pesticidas e químicos de sintetização, fornece  alimentos mais saudáveis com menos custos energéticos e favorece o equilíbrio ecológico.
Que técnicas utiliza a Agricultura Biológica no seu modo de produção? Pratica a rotação de culturas, utiliza adubos orgânicos resultantes de compostagem, fertiliza os solos pelo enterramento de plantas herbácias seleccionadas, escolhe criteriosamente as espécies a semear ou plantar tendo em conta o tipo de solo, o clima, a época de sementeira e a disponibilidade de água, aposta nas consociações de espécies compatíveis, recorre à acção fitossanitária de algumas plantas e promove a ação de microorganismos e animais benéficos na luta contra as pragas.
Porque surge associada a Joaninha à Agricultura Biológica?
Porque a joaninha é um precioso auxiliar na luta contra os pulgões, que constituem uma autêntica praga, sugando a seiva das plantas. A joaninha tem um aspeto simpático mas é um animal muito voraz que chega a comer trinta pulgões por dia, desempenhando uma missão muito útil na Agricultura Biológica.
Há formação específica para a Agricultores Biológicos?
Foi criada a Associação Portuguesa de Agricultura Biológica(AGROBIO) que realiza ações de formação em todo o país, direcionadas para áreas específicas e tem desenvolvido interessantes atividades de sensibilização e promoção da Agricultura Biológica.
Está sediada na Calçada da Tapada, nº 39, R/C Dto, em Lisboa junto à Tapada da Ajuda.
http://www.agrobio.pt, o mail é agrobio@agrobiopt, telefones 213641354/213623585 e fax 213623586.

sábado, 9 de novembro de 2013

A FONTE DA LAGOA DA NAVE DO BARÃO

Quem hoje conhece a Nave do Barão, esta aldeia do Barrocal abrigada entre dois montes, com gente simpática e hospitaleira, está longe de imaginar as canseiras dos residentes há algumas décadas atrás, antes de haver água canalizada  e de muitos agricultores terem perfurado a terra mãe, trazendo para a superfície a água do que é hoje considerado o maior aquífero subterrâneo do Algarve.
Se recuarmos cem anos, quando ainda não tinha sido construído o poço na Lagoa da Nave, veríamos os residentes a percorrer o atribulado Caminho da Fonte, a cavalo dos seus burritos e machos, aparelhados com albardas, escangalhas e cântaros, subindo a encosta íngreme do monte, para ir buscar água às fontes que brotavam junto à Ribeira de Salir. No regresso com os amimais carregados com os tradicionais cântaros de barro, faziam o percurso contrário a pé, acompanhando o passo dos muares, que por vezes tropeçavam nas pedras do caminho, quebrando as vasilhas e perdendo o precioso líquido.

Foi entretanto construído o Poço na Alagoa da Nave, a que agora chamam Fonte da Nave do Barão e o percurso em busca de água para consumo doméstico, passou a ser feito por caminhos mais direitos e menos atribulados, mas ainda assim a uma razoável distância da localidade. À chuva, ao frio ou nos calores inclementes do verão, lá iam homens e mulheres nos seus burros, transportando dois ou quatro cântaros em cada viagem.
Algumas famílias construíram cisternas para armazenar a água das chuvas, que se esgotava com a chegada do tempo quente e era preciso ir abastecer os cântaros para os consumos domésticos e os animais ao Poço da Alagoa.

A água era então um bem precioso gerido com muita moderação. Os banhos, quase sempre com regularidade semanal, eram dados em alguidares, sendo a mesma água por vezes utilizada por várias pessoas.
Hoje é difícil aceitar estas restrições mas recordo-me perfeitamente de que a água posta na bacia para lavar as mãos, chegava a servir para várias pessoas.
No final dos anos sessenta surgiram os primeiros furos, que transformaram a agricultura exclusivamente de sequeiro em hortas de regadio.
Antes desta descoberta, tinham os residentes da Nave do Barão as suas hortas próprias ou arrendadas, em terrenos irrigados pela Ribeira de Salir, por detrás do monte que abriga a Nave do Vento Norte.
Foi já depois do 25 de Abril, depois de tantos pedidos e promessas durante  ditadura do Estado Novo, que a povoação da Nave do Barão experimentou a água canalizada, com todos os benefícios que lhe estão associados.Quem nos visita no inverno e vê o imenso lençol de água acumulada na Lagoa da Nave não pode imaginar as privações que houve em tempos, no consumo da água, esse recurso maravilhoso que todos devemos preservar na Terra. Hoje em dia, com a generalização dos químicos para adubar a terra e combater as pragas, estamos a contaminar as águas subterrâneas onde a água é captada, comprometendo a qualidade da água e o nosso futuro coletivo. 




quarta-feira, 6 de novembro de 2013

VESPAS ASIÁTICAS O TERROR DAS COLMEIAS

A vespa asiática também conhecida por vespa mandarinia (velutina nigotorax) é chamada no Japão a vespa do inferno.
Foram-se espalhando pela Europa, invadiram Espanha e começaram a chegar a Portugal pelo norte, mas estão a espalhar-se rapidamente pelo centro e sul do país.
É maior que uma vespa normal, chega a atingir 5 cm de comprimento e o ferrão pode ter 6 mm.
Estão a destruir as colmeias com uma técnica de caça eficaz. Esperam nas colmeias que cheguem as abelhas carregadas de pólen, capturam-nas, cortam-lhes a cabeça, as patas e o ferrão e transportam-nas para os seus ninhos, onde as comem. Apenas três dezenas destas vespas samurais podem extreminar em pouco tempo uma colmeia de 30 000 abelhas.
Esta praga, além de estar a destruir as colmeias e a prejudicar os apicultores, são um perigo para a saúde pública,pois já se registaram mortes de pessoas na China, em França e Canadá, devido às picadelas destas vespas.
O Instituto para a Conservação da Natureza  e a Federação de Apicultores Portugueses , apelam a quem vir os ninhos destas vespas, (que geralmente são bolas penduradas na árvores de grande dimensão, mas podem assumir outras formas), para tirarem fotos e enviarem via mail, para que sejam identificados e destruídos estes ninhos.
Nesta batalha todos somos importantes para eliminar ou diminuir o perigo desta vespa perigosa. Se tiver conhecimento de situações contacte imediatamente o ICN icnf@icnf.pt e a FAP sap1951sap@gmail.com.
No sítio do Pomar em Salir foi encontrado um ninho de grandes dimensões, forrando uma parede como se fosse um trabalho artístico feito em papel cinzento claro. Mais recentemente na Nave do Barão foram identificados dois ninhos destas vespas perigosas em tocas de árvores.
É muito importante que todos colaboremos nesta fase de combate à propagação desta praga, que além de destruir as colmeias constitui um perigo para a segurança das pessoas.
Na Nave do Barão o Damásio foi picado por uma destas vespas no pescoço e ficou atordoado com a dor e o veneno injetado.

domingo, 3 de novembro de 2013

ADEUS MANUEL ALVES, ATÉ SEMPRE...

Foi há muito que nos conhecemos
no fervilhar da nossa juventude inquieta,
povoados de promessas e sonhos;
como o tempo passa tão depressa...
Almada das vivências partilhadas,
unidos na amizade e na esperança,
na encantatória aventura da educação,
para construção de um mundo melhor.
Recordo com estranha nostalgia,
 a tua voz serena ecoando na noite,
na Rádio Castelar, de boa memória.
E essa entrega de alma e coração
por uma escola diferente sonhada,
fraternal, solidária, humanizada.
Na lonjura do teu olhar,
com esse jeito singular de ser,
esse modo fraterno de abraçar
a vida, a pedagogia, a utopia,
nesta luta sempre inacabada
de tecer o destino aqui e agora.
Partiste com dor e mágoa,
deixando em nós o vazio e a revolta.
Tão cedo te levou o anjo negro..
com tanto futuro por reinventar.
Não sei para onde foste,
montado no teu cavalo branco alado
entre neblinas e maresias...
Anda cá Manuel, ....quero dar-te um abraço
ao som daquela linda canção do Zeca:
"Amigo maior que o pensamento".

JS







sexta-feira, 1 de novembro de 2013

CAÇADA AO JAVALI TERMINA COM ALMOÇO DE LEBRE

Foi no domingo passado que a Associação de Caçadores da Nave do Barão organizou uma batida ao Javali. Encontraram-se cedinho para o pequeno almoço reforçado, partiram pelos montes com os seus canitos e foram bater terreno na esperança de poderem alvejar algum dos muitos javalis que habitam por aqui. Mas os bichanos têm também o seu instinto de sobrevivência e conseguiram escapar do cerco que lhe foi montado. Os caçadores chegaram "murchos", com um "chibo" na bagagem.
Mas o petisco já estava garantido com duas lebres que haviam caçado antes, fazendo as delícias de cerca de três dezenas de almoçaristas, com a habitual arte culinária da Marieta. 
Foi mais um momento de agradável convívio bem regado com vinho da Nave, desta vez da colheita de Manuel Rosa, que trepa com muita facilidade e ajudou à animação da festa.
Na Nave do Barão, tal como na mítica aldeia de Obélix, os momentos coletivos terminam sempre com uma ágape e opípara refeição mas desta vez os javalis não fizeram parte da ementa, apesar de serem abundantes e de fazerem bastantes estragos nas hortas da região.